Camarina
Camarina é uma apoikia secundária fundada por Siracusa no estuário do Rio Hyparis, no litoral sudeste da Sicília no ano de 599/8a.C. (Tucídides, VI,5). Os oikistas teriam sido Dáscon e Menécolos. Os habitantes (ou parte deles) teriam sido expulsos pelos próprios siracusanos em 553a.C. depois de revoltas e alianças com os sículos. De acordo ainda com Tucídides, a cidade foi refundada (katoikizein) pouco depois por Hipocrates tirano de Gela em 492a.C., esvaziada de sua população de novo, por Gélon e reabitada pela terceira vez em 461a.C. (Diodoro Sículo, XI, 76,5) por imigrantes de Gela. O registro arqueológico é, entretanto, contínuo, sem rupturas com exceção do que parece ser um hiato atribuído aos anos entre 484-461a.C.
Code: CAM
Actual name: Camarina/ Santa Croce Camerina
Original idiom name: Καμάρινα (ἡ)
Latin name: Camerinus
Region: Sicília (Costa Sul)
Archaeological site: archaeological site 1
Longitude: 14.444277
Latitude: 36.87111
Media
Relacionamento ásty e khóra > Estruturas entre ásty e khóra: muros, necrópoles, santuários.
Os muros da cidade são datados de 553, com acréscimos dos séculos V e IV com uma espessura de dois metros, eles se estendem por um perímetro de 7 km. Foram escavadas por enquanto três portas: uma ao centro no lado oriental, uma ao sul, porta de Mégara Hibléia e uma a nordeste perto da foz do Hyparis, a porta de Gela.
O território de Camarina foi bastante pesquisado e a conclusão a que se chegou é que a partir de meados do século V ele foi mais intensamente ocupado a leste dos muros, no vale do rio Oanis e que se estendia por aproximadamente 100 hectares, sendo que a área mais distante da cidade devia estar a mais ou menos quatro ou cinco quilômetros. Os muros de kleroi e das fazendolas escavadas mostram que o seu direcionamento era o mesmo do que as construções no interior dos muros. (FLORENZANO, 2006:11).
- STEFANO, G. D.; Camarina. Guida Archeologica.
- MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
- FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
- COARELLI, F.; TORELLI, M.; Sicilia - Guide Archeologiche Laterza.
- LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.
Formas de ocupação da khóra > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares
Foram identificados santuários extra-urbanos, dois na área mais próxima dos muros: um dedicado à ninfa Camarina entre o trecho setentrional dos muros e o Rio Hyparis, outro dedicado às divindade ctônias, associado à porta oriental (porta do estenope 44-45) que conduz à khóra. Um pouco além, no Passo Marinaro, foi identificado um santuário associado à necrópole e ainda outro santuário aparece na colina de Cozzo Campisi, no trajeto do caminho que conduzia a Siracusa, este dedicado ao Rio Oanis. Além deste foram escavados inúmeros pequenos santuários rurais espalhados por toda a khóra. (FLORENZANO, 2006:10-11).
- FLORENZANO, M. B. B.; A contribuição das colônias ocidentais na construção da identidade poliade: subsídios do uso e da organização do espaço.
- VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
Fronteiras > Naturais: rios, topografia, mar
Camarina localiza-se sobre um promontório a 60m acima do nível do mar. Cercada por dois rios, o Oanis, hoje chamado Rinfrescolaro, e o Ippari (ou Hypparis), tornando a região fértil e propícia ao plantio. (LONGO; JANNELLI; CERCHIAI, 2004:231). Devido à sua localização estratégica, Camarina sofreu com diversas invasões acompanhadas da destruição e da reconstrução da cidade. (BOLLATI; BOLLATI, 1999:23).
- MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
- CARRATELLI, G. P.; Sikanie: Storia e civiltà della Sicilia greca.
- BOLLATI, R.; BOLLATI, S.; Siracusa: genesi di una città. Tessuto urbano di Ortigia.
- CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Formas de ocupação da khóra > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares
Reconstituição do santuário de Deméter e Koré que data dos séculos VI a V a.C. localizado na área sagrada meridional, externa ao muro urbano na khóra camarinense sobre as dunas que correm ao longo da linha da costa próximo ao mar. A construção do templo ocorreu durante o período em que a cidade foi reconstruída por Gela em 491 a.C. por iniciativa de Hipócrates. (VERONESE, 2006:352).
- VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação
O espaço destinado à ágora foi definido desde a primeira instalação da grade urbana no século VI a.C. Trata-se de um espaço situado na extremidade sudoeste da colina principal, entre o porto e o templo na acrópole. Estes espaços se comunicam por meio da principal platéia, a B. O espaço da ágora vai da platéia B até a A e se estende entre os estenopes 8/9 e 6/7, ocupando provavelmente todo o extremo sudoeste da cidade, aproximadamente 20.000 metros quadrados.
De acordo com os arqueólogos responsáveis pelas escavações na ágora, ela estaria já desde época clássica dividida em duas partes: a ágora do levante (80 x 85m) com funções mais comerciais e religiosas e a ágora do poente (120 x 80m) com funções mais cívicas e administrativas.
É preciso destacar que esta grande ágora de Camarina está perfeitamente inserida na grade ortogonal da cidade, desde a sua implantação. O fato das duas ágoras estarem em uma extremidade da cidade e ao mesmo tempo mais altas que o nível do mar, fazia com que fossem perfeitamente visíveis para quem chegava por mar. A ágora do poente estava inclusive disposta em duas cotas de altitude diferentes o que a predispunha a uma integração mais monumental na paisagem.
Sua ligação com a platéia B a coloca em direta associação com o outro espaço público importante, o santuário de Atena na acrópole, ao mesmo tempo a proximidade com o mar, o porto por meio da porta de Gela fazia a ligação com o mundo exterior mais distante. Em Camarina, a função articuladora da ágora fica bastante evidente por causa destes traços. (FLORENZANO, 2006:10-11).
Camarina: planta da área da ágora. (D. Mertens e M. Schützenberger).
Planta das duas ágoras de Camarina.
Planta da ágora, 1:2000. J. Scheibe e M. Schützenberger.
Planta das ágoras de Camarina, após recentes escavações.
Planimetria do conjunto de pequenos santuários localizados na ágora do levante (Di Stefano 2000).
- FLORENZANO, M. B. B.; A contribuição das colônias ocidentais na construção da identidade poliade: subsídios do uso e da organização do espaço.
- STEFANO, G. D.; Camarina. Guida archeologica.
- MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
- VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
- LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.
- CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação
A grade urbana mais completa data do século V (provavelmente 461) e segue a orientação da grade anterior. Desta época data o eixo principal da planta a assim chamada platéia B que corre na espinha dorsal da colina ao longo da qual se localiza o templo (na ‘acrópole’) e a ágora já com alguns edifícios construídos. Esta platéia central absorve o principal papel econômico da cidade, colocada de modo a ser eqüidistante dos lados do perímetro urbano. Serve ao témeno de Atena ao norte e à agorá ao sul, ambos perfeitamente inseridos na grade ortogonal. Foram escavadas também várias habitações/casas, adjuntas aos estenopes que atravessam a platéia B.
A partir do período timoleonteo (dos anos 340 a 258) a grade urbana foi incrementada, caracterizando-se pelo traçado de 5 platéias cruzando a platéia B e mais quatro outros eixos urbanísticos. Os mais importantes são a platéia A e a C que corriam paralelamente à antiga platéia B. Parece que na colina Lauretta teriam existido ainda duas outras platéias, a D e a F que se estenderiam também como eixos urbanos. A platéia B foi continuada em direção ao sudeste até chegar na colina Héracles. Todas estas platéias foram atravessadas por numerosos estenopes. (FLORENZANO, 2006:9).
Vista aérea com a estrada moderna correndo quase paralelamente às antigas rotas.
Quarteirão nordeste e forno Provvide. (Distefano in Miro, Braccesi e Bonacasa).
- FLORENZANO, M. B. B.; A contribuição das colônias ocidentais na construção da identidade poliade: subsídios do uso e da organização do espaço.
- FREDERIKSEN, R.; Greek City Walls of the Archaic Period, 900-480 BC (Oxford Monographs on Classical Archaeology)
- MIRO, E. D. (ed.); BRACCESI, L. (ed.); BONACASA, N. (ed.); La Sicilia dei due Dionisî.
- VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
- CARRATELLI, G. P.; Megale Hellàs: storia e civiltà della Magna Grecia.
- BOLLATI, R.; BOLLATI, S.; Siracusa: genesi di una città. Tessuto urbano di Ortigia.
- CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Técnicas construtivas > Detalhes arquitetônicos
Na fazenda de Menta é possível, através dos resquícios arqueológicos, identificar a técnica construtiva empregada nas paredes desta construção. Simplista, com paredes de cerca de 70-80 cm de espessura, feitas a partir de blocos do rocha de forma isodômica nos cantos e blocos de pedra de média dimensão no interior da construção. (MIRO; BRACCESI; BONACASA, 1999:103-104).
Khóra. Detalhe de construção da “Fazenda das abelhas”. Exemplo da técnica de construção de muro.
Khóra. Vista das ruínas da fazenda de contrada Menta. (Distefano in Miro, Braccesi e Bonacasa).
Fazenda da localidade Menta. Vista dos vãos B e D. (Di Stefano in Miro, Braccesi e Bonacasa)
- MIRO, E. D. (ed.); BRACCESI, L. (ed.); BONACASA, N. (ed.); La Sicilia dei due Dionisî.
Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares
O templo de Atena, datado do século V a.C., localiza-se no setor ocidental da planta urbana no planalto que se projeta para o mar de Camarina, onde não se percebe a articulação com o restante da área sacra da cidade. A construção das paredes do témeno é composta de blocos isodômicos revestidos por argila. (VERONESE, 2006: 348).
- MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
- VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
Formas de ocupação da khóra > Áreas residenciais: vilas, fazendolas
Dentro do grande complexo rural de Camarina que abrange as fazendas Iurato, Capodicasa, Menta e Cancellieri, é possível classificar as diferentes plantas da área externa à cidade em dois grupos. O primeiro, é composto por plantas de fazendas de grande porte, o segundo, de fazendas de menor porte, nas quais os vantagens produtivas prevalecem sobre as residenciais.
A grande fazenda Iurato datada aproximadamente do século V a.C. é um exemplo de um grande complexo rural de caráter habitativo e produtivo, no entanto, é a única planta que apresenta o caráter habitativo mais presente do que o segundo. A região residencial da fazenda está a oeste, o que pode ser concluído pela presença de estruturas da sala-de-estar, corredores e ambientes ornamentados. A área produtiva, localizada à leste, era destinada à produção de azeite como mostram resquícios arqueológicos.
As fazendas Capodicasa, Cancellieri e Menta são exemplos das plantas de menor dimensão da khóra camarinense, evidenciando uma fase de ocupação da idade pré-timoleontea que permeia o final do século V até a metade do século IV.
A produção destas outras fazendas estava concentrada no processamento da uva e do mel.
(MIRO; BRACCESI; BONACASA, 1999:101-103).
Construções rurais agrupadas por época. (Distefano in Miro, Braccesi e Bonacasa).
Khóra. Fazenda Iurato - isometria. (Distefano in Miro, Braccesi e Bonacasa).
Khóra. Fazenda Capodicasa. (Distefano in Miro, Braccesi e Bonacasa).
Khóra. Vista das ruínas da fazenda de contrada Menta. (Distefano in Miro, Braccesi e Bonacasa).
Caroços de azeitona da fazenda Iurato. (Distefano in Miro, Braccesi e Bonacasa).
- MIRO, E. D. (ed.); BRACCESI, L. (ed.); BONACASA, N. (ed.); La Sicilia dei due Dionisî.
- BOLLATI, R.; BOLLATI, S.; Siracusa: genesi di una città. Tessuto urbano di Ortigia.
Fronteiras > Marcadores: horoi, frúria, santuários, portos.
A cidade de Camarina se estendia sobre três colinas, chamadas hoje de Heracles, Casa Lauretta e Cammarana, a principal. São colinas com o topo relativamente plano, com 60 metros de altura em relação ao mar. O limite norte da ocupação estava dado pelo R. Hyparis e o limite sul pelo R. Oanis. A parte principal da cidade se distribuía em uma linha quase perpendicular à costa, na colina Cammarana, tendo na parte nordeste uma grande área pantanosa. O porto da cidade foi construído no estuário do Hyparis, entre o mar e o pântano. Em época clássica as dimensões da cidade chegaram a 190 hectares. (FLORENZANO, 2006:9-10).
Planta aérea da ocupação em época clássica.
Planta aérea da ocupação em época clássica.
- FLORENZANO, M. B. B.; A contribuição das colônias ocidentais na construção da identidade poliade: subsídios do uso e da organização do espaço.
- STEFANO, G. D.; Camarina. Guida alla città antica.
- LABECA,; Foto Acervo Labeca
- VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica