Caulônia

Caulônia foi fundada por colonizadores aqueus entre o final do século VIII a.C. e o início do VII, em uma área não previamente habitada e viveu autônoma e próspera por cerca de três séculos, até que em 389 a.C. foi conquistada e destruída por Dionisio I, tirano de Siracusa. Reconstruída, a cidade viveu um curto período de paz, que foi abalada no decorrer do século III a.C. por uma série de eventos que culminaram com sua conquista por parte dos romanos em 205 a.C. O sítio, todavia, sobrevive com o nome de Stilida, como estação de parada da estrada costeira que liga Crotona a Régio. A cidade não chegou a se desenvolver o suficiente para se tornar uma potência econômica talvez em função de sua localização muito próxima de cidades maiores e mais influentes como Crotona e Locris.
Para a organização do espaço de Caulônia, vide também no site www.labeca.mae.usp.br, a aba bibliografia, painéis de sítio.

Code: CAU
Actual name: Caulónia
Original idiom name: Καυλωνία, Αὐλονία
Latin name: Caulonea
Region: Itália (sul) (Bruttium)
Sítio Arqueológico: archaeological site 1
Longitude: 16,57861
Latitude: 38,444277

Media

Técnicas construtivas > Detalhes arquitetônicos

Podemos ver aqui detalhes das telhas, o único tipo de tijolo cozido utilizado na construção das casas. As telhas eram produzidas nas oficinas cerâmicas e o processo de cozimento garantia maior impermeabilidade.

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
Formas de ocupação da khóra > Estruturas de marcação da extensão do território

Toda a hinterlândia da Calábria meridional, com costa marítima no Mar Tirreno e no Mar jônio era motivo de disputa entre as várias cidades gregas ali instaladas: Régio, Lócris, Caulônia, Crotona, Síbaris Toda essa região contava com populações indígenas que, influenciadas pelos gregos, aderiam ou apoiavam uma ou outra pólis.

  • LOMBARDO, M.; Greci e indigeni in Calabria: aspetti e problemi dei rapporti economici e sociali
Formas de ocupação da ásty > Áreas residenciais

As casas de Caulônia tinham dimensões padrão que dependiam da regularidade da grade urbana, dividida em quarteirões iguais que, por sua vez, eram separadas em lotes iguais, cada qual com duas casas. A planta era quadrangular com cerca de 17 m de lado, com exceções: a casa escavada por Orsi chamada “Insula I” ocupava mais da metade do lote, medindo 22,50 m; a “Casa do Dragão” ocupava o lote inteiro, medindo 35 m de largura. Quanto à distribuição planimétrica, as casas eram dispostas ao redor de pátio interno central, com a sala de estar disposta a oeste, os cômodos de serviço a norte, os quartos privados a sul ou a sudeste. Nas residências de maior prestígio, a distinção entre a parte residencial e a parte de representação era mais marcada: a casa da “Insula I”, por exemplo, parece apresentar aquela distinção entre o gineceu (parte reservada às mulheres) e androceu (parte reservada aos homens) da qual falam as fontes antigas, mas que raramente é atestada na arquitetura doméstica da Magna Grécia.
O pátio interno tinha uma função importante na casa: ligar os ambientes, assegurando luz e ar, ela era a sede de muitas atividades domésticas. Frequentemente, os cômodos a oeste não davam diretamente para o pátio interno, mas para sua pastàs, um corredor com pórtico que funcionava como ligação entre a parte externa e interna, garantindo maior privacidade aos ambientes da parte de trás da casa.

  • IANNELLI, M. T.; Caulonia: note di topografia urbana.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • BOLLATI, R.; BOLLATI, S.; Siracusa: genesi di una città. Tessuto urbano di Ortigia.
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Relacionamento ásty e khóra > Estruturas entre ásty e khóra: muros, necrópoles, santuários.

A muralha de Caulônia abrangia um quadrilátero entre a faixa costeira mais baixa e as colinas a oeste, especialmente a colina Piazzetta, identificável como a acrópole, onde havia um trecho posterior de muros internos o que fazia com que a acrópole fosse fortificada com muros de todos os lados.
A muralha possuía pelo menos onze torres, mais numerosas nas partes estrategicamente mais fracas, como no setor de colina; a planta, quadrada ou retangular, funcionava como local de defesa e de ofensiva, como demonstram as feitorias funcionais para uso de equipamento bélico.
Nos muros abriam-se as portas que permitiam o acesso à cidade. Entre as quatro portas separadas, a mais complexa está no lado noroeste, entre as torres I e II: a sua colocação com torquês prevê uma abertura em posição atrás da cortina e duas torres erguidas, uma mais à frente que a outra de modo a formar um vão com um obstáculo transversal, que impedia eventuais inimigos de atacar com o lado direito descoberto enquanto o escudo era segurado com a esquerda.

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
Formas de ocupação da ásty > Áreas residenciais

Para a construção das casas eram utilizados materiais simples e de baixo custo. Os muros eram constituídos por um rodapé de fundação de pedras e pedregulhos, sobre os quais se colocava a parede de tijolos crus, feitos sem cozimento nos fornos, apenas secos ao sol. As paredes eram protegidas por simples rebocos pintados de branco. Os pavimentos eram simples planos, nivelados e prensados, raramente apresentavam revestimentos elaborados, como telhas dispostas de forma plana; somente os ambientes de residências luxuosas eram decorados por mosaicos, como atesta a famosa “Casa do Dragão”. Para o pátio interno era frequente o uso de uma pavimentação de seixos, que assegurava uma boa drenagem da água; mais raras são as pavimentações de tijolo. As casas eram completadas por poços e sistemas de canalização para o escoamento das águas; não poderiam faltar pórticos pequenos de estruturas efêmeras, seja junto à rua, seja no interior do pátio.

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
Formas de ocupação da ásty > Áreas de trabalho: oficinas

Ao norte de Caulônia, em Punta Stilo, a pesquisa arqueológica submarina trouxe à luz muitos elementos que nos ajudam a explorar os vários aspectos do disciplinarmente do espaço. Em relação ao complexo de material lapidário encontrado na área submersa de “Punta Stilo” foram formuladas numerosas hipóteses, mas se levarmos em consideração o importante dado constituído pela presença dos materiais brutos ou semi-trabalhados, juntamente àquelas lascas de trabalhos difusos por toda a superfície, as propostas se reduzem a duas.
A área poderia ter sido uma oficina de trabalho em pedra para a produção de materiais para a construção de edifícios públicos, em particular os templos, em Caulônia. A matéria-prima, de origem calabresa, talvez proveniente da bacia de minérios de Stilo-Bivongi, poderia ter sido transportada por mar. Os materiais mais pesados foram encontrados em local mais distante da costa moderna e mais próximo da costa antiga, nas imediações do porto. Por outro lado, os materiais mais leves foram localizados em locais mais próximos da costa moderna, em uma área afastada da praia antiga, o que faz sentido considerando que eles eram mais fáceis de transportar.
Uma outra hipótese é que a zona poderia ter sido escolhida para a realização de um templo de origem jônica, dada a presença de bases e rochas de coluna neste estilo. A construção de tal edifício nunca teria sido terminada como atestariam os materiais semi-trabalhados.
O achado de maior importância é a parte final do fuste de uma coluna jônica, ou seja, a parte do ápice em que se colocava o capitel. A face superior é decorada pelo chamado “anthémion”, um friso de palmetas e flores de lótus alternadas. Essa peça é comparável ao final do fuste da coluna do templo de Marasà em Lócri, datado de 480-470 a.C., da qual, todavia, se diferencia pelas dimensões mais reduzidas e pelas diferentes proveniências do calcário.

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

A identificação do local da apoikia grega de Caulônia na área da atual Monasterace Marina ocorre já no fim do século XIX graças ao arqueólogo Paolo Orsi, responsável pelo início das pesquisas que foram retomadas na segunda metade do século XX e que vêm permitindo reconstruir a organização da cidade nas suas linhas iniciais.

  • IANNELLI, M. T.; Caulonia: note di topografia urbana.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Relacionamento ásty e khóra > Estruturas entre ásty e khóra: muros, necrópoles, santuários.

Plantas do assentamento com indicação das principais estruturas e da khóra ao redor. A área urbana de Caulônia, cercada por uma cortina amuralhada com portas e torres, era organizada segundo uma implantação urbanística regular com estradas ortogonais para delimitar quarteirões iguais. As escavações trouxeram à luz casas, dentre as quais se destaca a “Casa do Dragão”, o monstro representado no mosaico policromo no pavimento de um dos seus ambientes.
Na parte interna da cidade surgiu um santuário caracterizado pela presença de um grande templo dórico, cuja base ainda está visível na praia. Conhece-se também uma outra área sagrada particularizada na parte externa da cidade sobre a colina chamada Passoliera; dali foram recuperadas esplêndidas terracotas arquitetônicas policromadas que decoravam a parte alta de um templo e de outras estruturas de culto. As áreas das necrópoles eram localizadas fora da área murada: além da necrópole grega escavada por Orsi, foi confirmada, pelas escavações recentes, a presença de uma necrópole dos Brécios – população itálica que devia ocupar Caulônia no século III a.C.
Em relação ao território de Caulônia, em época grega deviam existir pequenas fazendolas rurais distribuídas no campo; em época romana foi atestada a presença de uma vila em Fontanelle, relacionada a uma organização territorial para latifúndios.
Um setor significativo da área de habitações de Caulônia pode ser visitado próximo ao Parque Arqueológico da antiga Caulônia junto a Monasterace Marina, em cuja proximidade situa-se o Antiquarium que guarda uma vasta coleção de achados.

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FREDERIKSEN, R.; Greek City Walls of the Archaic Period, 900-480 BC (Oxford Monographs on Classical Archaeology)
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
  • BOLLATI, R.; BOLLATI, S.; Siracusa: genesi di una città. Tessuto urbano di Ortigia.
Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Templo de Apolo. Recentes escavações na área do Templo de Apolo tem trazido à luz novos elementos. No lado sudeste do templo, por exemplo, está em andamento a escavação de um imponente estrato de ruína, constituído por elementos arquitetônicos da parte alta do edifício (entablamento e cornija). Tais elementos são de pedra, mas foram encontrados também elementos decorativos em terracota como, por exemplo, dois lastros da faixa do frontão para a decoração da canaleta do teto.
Alguns fragmentos em mármore são dignos de nota pertinentes, talvez, a uma decoração escultórica do acrotério, colocada nos ângulos das cornijas. Todos esses elementos, uma vez desprendidos, foram progressivamente desgastados pelo acúmulo natural, permanecendo preservados fortuitamente dos saques, que outros elementos do templo, na superfície, sofreram com o decorrer do tempo, ou pela reutilização como materiais de construção ou pela extração de cal. A leste do templo, foi verificada a existência, embaixo da duna costeira, de um amontoado de estruturas amuralhadas em técnica de estereotomia, paralelas e decrescentes até o leste, que formam uma área maciça de substrato do terraço do templo e que funcionavam como limite da área sagrada. O alicerce não tem, contudo, qualquer relação física com a escada frontal no lado norte do templo.
Ao sul do templo, as pesquisas têm se voltado para um setor que já é objeto de estudos desde os anos 1960: a mais recente descoberta é que, entre as estruturas trazidas à luz na época, certamente está um edifício sagrado, de planimetria e datação ainda a serem confirmadas.
Uma estrutura de culto interessante foi trazida à luz ao norte do templo, aos pés da extremidade ocidental da escadaria: trata-se de uma grande fossa votiva retangular cuidadosamente revestida de telhas planas e dotada, ao centro do plano de fundo, de uma meia ânfora utilizada como tanque, próxima dos três degraus ao norte. Dentro, foram determinados mais estratos de deposição, mais cântaros de fundo intencionalmente furado, com propósito ritual, e ossos de animais, ainda em análise.

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • JULIIS, E. M. D.; Magna Grecia: L’Italia meridionale dalle origini leggendarie alla conquista romana.
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior