Gela

Gela foi fundada em 689/88 a.C. na costa meridional da Sicília por contingentes de gregos vindos da ilhas de Creta, e de Lindos, na ilha de Rodes – as duas eram ilhas dórias no Mar Egeu. É certo que antes mesmo da fundação oficial havia um assentamento, provavelmente ródio, pelo menos desde o século VIII a.C., o que tem sido confirmado por evidências materiais (De Miro, Fiorentini, 1983: 55-64), assim como por sugestão das fontes textuais (Tuc. VI, 4.3). A cidade ocupava uma longa colina paralela à costa, vizinha à foz do rio Gelas. Sobre a parte Oriental desta colina ficava a acrópole. Na parte Ocidental ficava a área da necrópole. A área das habitações ficava entre as duas, sobre a própria colina. Além desta e em direção ao interior da ilha, havia uma rica planície fértil que se estendia até uma série de colinas rochosas.
No final do séc. VI a.C., Cleandro, o primeiro tirano de Gela, tomou o poder. Após ser assassinado foi substituído por seu irmão Hipócrates, sob o comando de quem a cidade teria experimentado seu momento de maior expansão política, econômica e militar, e o que se seguiu durante os primeiros anos da tirania de Gélon (cf. Vallet, 1996; Tabone, 2012: 50ss). Foi durante este período que a acrópole foi reestruturada com a monumentalização de templos e a construção de uma cinta de muros, assim como foi o momento em que se emitiu a primeira série monetária, que data de 490/85 a.C. (Le Rider, 1970: 153).
Em 480 a.C., juntamente com Siracusa e Agrigento (sua sub-colônia), Gela infligiu uma grande derrota aos cartagineses em Himera (cidade no norte da Sicília). Mas em 405 a.C. a cidade foi completamente destruída pelos cartagineses. A reconstrução que se seguiu não foi intensa, o que em parte se deve aos altos tributos impostos pelos púnicos. Em 339 a.C. a cidade foi ‘libertada’ por Timoleonte e foi reconstruída sob um novo plano urbano (Orlandini 1956: 165). Mas a cidade foi logo destruída novamente, desta vez por Siracusa, até que em 280 a.C. a cidade foi completamente arrasada pelos mercenários mamertinos e abandonada.

Code: GEL
Actual name: Gela
Original idiom name: Γέλη / Γέλα
Latin name: Gela
Region: Sicília (Costa Sul)
Archaeological site: archaeological site 1
Longitude: 14.258055
Latitude: 37.063055

Media

Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

A implantação urbana

Segundo Dieter Mertens (2006), Gela apresenta um exemplo de precoce organização do espaço vital. Pouco se sabe sobre a primeira implantação, em grande parte porque a cidade moderna se sobrepõe à antiga, o que dificulta a elaboração de um desenho mais detalhado da planta urbana arcaica e clássica. É identificável uma platéia no sentido Leste-Oeste ao longo da crista da colina. A ágora estaria em uma área deslocada no centro da plataforma, onde hoje se localiza a Piazza del Duomo (Mertens, 2006: 79).

A área de habitações dos períodos arcaico e clássico ficava na parte centro-oriental da plataforma da colina. Além da platéia Leste-Oeste, havia uma série de estenopos que estavam dispostos em acordo com a orientação do templo A da acrópole (Atena Lindia), templo para o qual a plateia principal conduzia diretamente, e que podia ser visto através de toda a sua extensão; e o que leva a pensar que todo o plano urbano da primeira fundação tenha sido concebido antes de sua execução (Fischer-Hansen, 1996).

Entre o témeno do templo de Atena e a área de habitações ficava uma segunda área sacra, conhecida como Molino di Pietro, com vestígios de uma área de culto atribuída a Zeus Atabírios. Nas vizinhanças da área de habitação, próximo da ágora, havia ainda um templo dedicado a Hera, da segunda metade do séc. VII a.C. Para Tobias Fischer-Hansen (1996: 332), observando o plano geral da cidade arcaica, é notável que a plataforma foi dividida em unidades básicas, onde os santuários de Atena e de Zeus eram as partes mais impressivas; e o que junto do Heraion, da ágora e da área de habitações, conformou a primeira paisagem da ásty de Gela.

Coincide com as tiranias de Hipócrates e de Gélon – fim do séc. VI ao início do séc. V a.C. – a reestruturação da acrópole com a construção do grande templo dórico do Atenaion (o templo C), a monumentalização de diversos edifícios sacros e a construção da cinta de muros, obras que certamente foram empreendidas com o objetivo de afirmar o poder autocrático dos tiranos.
Em 405 a.C. a cidade foi arrasada pelas forças cartaginesas e ficou virtualmente abandonada até a sua reconstrução empreendida por Timoleonte entre 339 e 338 a.C., seguindo um plano regular que transformou radicalmente a topografia e a urbanística da ásty arcaica (Orlandini, 1956: 165). Foi construída uma nova e poderosa cinta de muros que circundava todo o perímetro da colina, da acrópole até Capo Soprano e Piano Notaro a Oeste – alguns trechos desse muro são ainda visíveis. Todo o setor ocidental, que correspondia a necrópole arcaica e clássica, tornou-se um novo quarteirão de habitações, assim como a antiga área da acrópole, que deixou de ser uma área sacra. O novo quarteirão foi organizado em um sistema de ruas ortogonais que descia pela encosta da acrópole sobre um sistema de terraços, sempre de acordo com os princípios urbanísticos hipodâmicos (Orlandini, 1956: 166).

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • PANVINI, R.; Gelas: Storia e Archeologia dell’antica Gela.
  • FREDERIKSEN, R.; Greek City Walls of the Archaic Period, 900-480 BC (Oxford Monographs on Classical Archaeology)
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  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
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  • COARELLI, F.; TORELLI, M.; Sicilia - Guide Archeologiche Laterza.
  • ORLANDINI, P.; Storia e topografia di Gela dal 405 al 282 a.C. alla luce delle nuove scoperte archeologiche.
  • FISHER-HANSEN, T.; The earliest town planning of the Western Greek colonies, with special regard to Sicily.
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

Algumas fotografias da área da colina onde ficava a acrópole, através das quais é possível perceber a relação entre a área urbana arcaica e clássica e o témeno na extremidade oriental.

  • MIRO, E. D. (ed.); BRACCESI, L. (ed.); BONACASA, N. (ed.); La Sicilia dei due Dionisî.
  • CARRATELLI, G. P.; Sikanie: Storia e civiltà della Sicilia greca.
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Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

Gela na Sicília

Gela foi fundada na costa Sul da Sicília sobre uma longa colina paralela à costa. O ponto era estratégico. Na costa os barcos conseguiam atracar com facilidade e a planície do interior era consideravelmente fértil. Após sua fundação, Gela iniciou um rápido processo de conquista de sua khóra. A planície fértil foi logo ocupada; e em seguida se iniciou a penetração ao longo das margens dos rios Gelas e Maroglio (um afluente do primeiro) a Leste da colina, e do rio Salso a Oeste; os dois rios se conformaram, durante os séculos VI e V a.C., como os limites latitudinais, ao mesmo tempo em que davam acesso ao interior do território (cf. Tabone, 2012: 195).

Quando os gregos chegaram a Sicília encontraram comunidades estáveis, estabelecidas há séculos e em grandes assentamentos, como Pantálica, próxima de Siracusa (Graham 2006: 94). Para Piero Orlandini, a planície de Gela devia estar desabitada quando a cidade foi fundada em 689/88 a.C. Mas é possível que a região já estivesse sob o controle de líndios pré-assentados (Monedero 1989: 284), através do estabelecimento de relações amistosas com as comunidades não gregas que viviam nos confins da planície e da assimilação dos que viviam nela. A consideração do material encontrado em Spina Santa, Farello, Santa Lucia e Monte Lungo, e em Settefarine (10 km a norte de Gela), sítios situados na planície, sugerem que a região já estivesse ocupada no momento da fundação (Orsi 1932; Muggia 1997: 77; Orlandini 1956: 74; Veronese 2006: 362; Tabone 2013: 234-35). As evidências de ocupação pré-histórica na planície são indicadas em um dos mapas reproduzidos.

As imagens apresentam Gela no contexto do território que a cidade ocupou e das áreas circunvizinhas, como Agrigento, fundada por colonos gelenses em 580/76 a.C. após uma marcha pela costa em direção ocidental que culminou com a fundação de diversos outros sítios, como Mânfria e Licata (De Miro, 1962). Esta marcha em direção Oeste acontecia ao mesmo tempo em que o processo de penetração para o interior, sendo as ocupações de Butera (Omphake) e Monte Bubbonia (Maktorion), os marcos de que na metade do século VII a.C. os gelenses controlavam toda a planície fértil (De Miro, 1962: 122-123).
A área foi então ocupada entre os séculos VI-III a.C. por fazendas gregas, cabanas sículas, assim como por diversas áreas sacras gregas.
No início do período Clássico a maior parte da população vivia espalhada através dos famosos ‘campos gelenses’, que se estendiam pela costa até Camarina e pelos vales dos rios Gelas e Maroglio para o interior. Esses campos se conformavam como a principal fonte de riquezas de Gela, e onde tem sido encontrados muitos vestígios de fazendas e de templos rurais (Asheri, 1970: 758; sobre o Gela Survey: De Angelis, 2006-2007).

  • ANGELIS, F. d.; Archaeology in Sicily 2001-2005.
  • ASHERI, D.; Carthaginians and Greeks. Persia, Greece and Western Mediterranean, c. 525 to 479 B.C.
  • ORSI, P.; Gela: Esplorazione di una necropoli in contrada Spina Santa
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  • VALLET, G.; Note sur la "Maison" des Deinoménides’. Le monde grec colonial d’Italie du Sud et de Sicile.
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Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Os santuários da acrópole: Atena Lindia e Zeus Atabírios

O conjunto de templos atribuídos ao témeno de Atena Lindia ficava na extremidade oriental da colina da acrópole (Molino a Vento). Nele, os templos A, B e C e os edifícios do lado norte “pertenciam a um único, grande santuário de Atena Lindia, que ocupava toda a plataforma oriental da acrópole e era, sem dúvidas, o mais antigo santuário de Gela, como demonstra a cerâmica proto-coríntia encontrada nas escavações” (Orlandini, 1968: 29-30). Arqueologicamente se destacam dois edifícios: o templo C, em estilo dórico, datado do séc. V a.C., do qual resta apenas uma coluna do opistódomo (na foto); e o templo B, que dista c. 50m a Oeste do primeiro e que é datado do período arcaico, contemporâneo da fundação da cidade. No interior deste ainda foram encontrados os restos de um terceiro edifício, conhecido como templo A (cf. Tabone, 2012: 90-101).

Os restos do templo A foram descoberto sob o naos do templo B, sendo possível, por isso, que este o tenha precedido (Veronese, 2006: 375). O edifício, assim como a primeira implantação urbana e os edifícios I e II, datam da mesma época, no início do séc. VII a.C. (sobre a datação do templo A, cf. Adamesteanu, Orlandini, 1962: 359; Fischer-Hansen, 1997: 323; Tabone, 2012: 95), assim como é notável que o conjunto foi planejado de modo articulado antes da própria implantação. Estamos diante de um plano urbano pré-concebido.

O templo B foi construído para substituir o templo A na primeira metade do séc. VI a.C. Ele tem uma planta retangular, com a estilobata medindo 35,22 x 17,75, o que permitiu concluir que fosse um templo períptero hexástilo (6 x 12 colunas). Durante as escavações foram encontradas diversas terracotas arquitetônicas – usadas para a decoração do templo – as quais testemunham um elaborado sistema decorativo em Gela, como é refletido também pelo tesouro gelense em Olímpia (Fischer-Hansen, 1997: 323).
Durante as primeiras escavações na área empreendidas por Paolo Orsi em 1907, foram identificados também os restos de uma construção em blocos, que foi logo identificado como um altar (Orlandini, 1968: 21). Também foi identificado um depósito votivo na encosta sul do témeno, onde foram encontrados materiais votivos do séc. VII a.C. e do início do séc. VI a.C. (engloba o período do templo A e do templo B), onde constam diversos tipos de materiais, dentre eles alguns achados interessantes para a atribuição do templo: uma cabeça de coruja em terracota, a orla de um pithos com uma inscrição dedicatória a Atena, uma cabeça de argila representando Atena com um lofos e um jarro ático de fundo branco (480-470 a.C.) com a representação de uma coruja com um ramo de oliveira; além de diversas estatuetas representando a divindade feminina no trono com polos e colares presos atrás com grandes fíbulas, que lembra o tipo identificado por Blinkenberg (1917) no santuário de Atena em Lindos, Rodes.
Nota-se assim que na metade do séc. VI a.C. o Atenaion recebeu sua primeira monumentalização com a construção do templo B e dos edifícios III e IV (primeira metade do séc. VI a.C.) e V, VI, VII e VIII (meados do séc. VI a.C.), e ainda os templos 1, 2, 3 e 4. Paolo Orsi, depois corroborado por Dinu Adamesteanu nos anos 1950, propõem que o fim das atividades no depósito e a destruição do templo no mesmo momento, evidenciam o abandono do local até a construção do templo C no início do séc. V a.C. (Orlandini, 1968: 22; Fischer-Hansen, 1997).

O templo C dista c. 50 m a leste do templo B e foi construído no início do sec. V a.C. em estilo dórico, com uma estilobata medindo 51 x 21,70m, possivelmente com seis colunas na frente e catorze laterais, um períptero hexástilo, e teto coberto com telhas de mármore (Orlandini, 1968: 25). Através do material encontrado foi possível descobrir que a única coluna sobrevivente pertencia ao opistódomo do templo.
Em 405 a.C., com a invasão cartaginesa, a acrópole foi completamente destruída e abandonada, sendo o estrato de destruição claramente perceptível no registro arqueológico, cheio de cinzas e vigas queimadas. Em 338 a.C. Timoleonte reconstruiu a cidade, mas a parte oriental da plataforma da colina passou a ser uma área de habitação (Orlandini, 1956).

  • BLINKENBERG, C.; L’imagine d’Athena Lindia
  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
  • ORLANDINI, P.; Storia e topografia di Gela dal 405 al 282 a.C. alla luce delle nuove scoperte archeologiche.
  • FISHER-HANSEN, T.; The earliest town planning of the Western Greek colonies, with special regard to Sicily.
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

Vias

Gela apresenta um exemplo precoce de organização do espaço vital (Mertens, 2006), mas pouco se sabe sobre a primeira implantação urbana da pólis – em grande medida porque a cidade moderna se sobrepõe à antiga impossibilitando um desenho mais detalhado da planta urbana arcaica e clássica.
Foi identificada uma plateia no sentido Leste-Oeste ao longo da crista da colina (como pode-se ver nos mapas que apresentam a reconstrução da planta urbana; há ainda uma foto da plateia). Esta plateia teria sido cortada por diversos estenopos (Mertens, 2006, p. 79).

Da acrópole partia uma das vias que seguia para o interior da khóra e que passava por uma das portas no muro, ladeado pelo santuário de Via Fiume (ou, ex-Estação Ferroviária); e mais adiante, passava pelo santuário de Madonna dell’Alemana. No entanto, pouco sabemos sobre a extensão completa desta via pelo território.
Uma das vias de comunicação mais importantes entre a ásty e a khóra de Gela parece ter sido os rios Gelas, Maroglio, Salso e Dirillo (Veronese, 2006), o que se nota pela grande quantidade de espaços sagrados fundados ao longo de suas margens com o claro objetivo de afirmar a soberania gelense sobre esse território (Tabone, 2013: 232ss).

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • MIRO, E. D. (ed.); BRACCESI, L. (ed.); BONACASA, N. (ed.); La Sicilia dei due Dionisî.
  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Formas de ocupação da khóra > Áreas residenciais: vilas, fazendolas

Casas na khóra

Grande parte dos habitantes de uma pólis viviam na área urbana, a ásty, onde estavam os edifícios públicos, os templos, a ágora e as oficinas dos artesãos. Os habitantes da ásty eram também os grandes proprietários de terras da khóra (Hirata, 2009), onde poderiam passar alguns períodos do ano, especialmente aqueles em que se demandava mais trabalho na terra (cf. Muggia, 1997).

A primeira área conquistada por Gela foi a planície fértil ao redor da colina costeira; "a fertilidade dessa região e a precocidade de sua ocupação evidenciam a forte conotação agrícola da apoikia ródio-cretense" (Tabone, 2012: 235). Assim, entre os séculos VI-III a.C. a região foi ocupada por fazendas gregas, como as encontradas em Manfria, Fiume di Mallo, Priorito, Milingiana e S. Giulio (plantas nas imagens), que eram pequenas unidades domésticas entre 338-1584 m2 compostas por vãos quadrangulares justapostos e que estavam associadas a implantações produtivas, como a oficina de Manfria (Muggia, 1997: 79; Tabone, 2012: 235).

  • HIRATA, E. F. V.; A Cidade Grega Antiga: a Pólis.
  • MUGGIA, A.; L’area di rispetto nelle colonie magno-greche e siceliote: Studio di antropologia della forma urbana.
  • MIRO, E. D. (ed.); BRACCESI, L. (ed.); BONACASA, N. (ed.); La Sicilia dei due Dionisî.
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
Formas de ocupação da khóra > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

As áreas sagradas da khóra
A partir de sua fundação em 689/8 a.C. Gela iniciou a ocupação do território (a khóra) ao redor da área urbana (a ásty). No século VI a.C. essa ocupação atingiu seu ápice, estendendo-se pelos vales dos rios Salso, Gelas-Maroglio e Dirillo e pela região montanhosa a norte da planície de Gela, quando entraram em contato tanto com os nativos quanto com outros gregos estabelecidos nas regiões de fronteiras (cf. Veronese, 2006; Tabone, 2012).

  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
Reconstituições > Reconstituições

Existem muitas maneiras de lidar com o documento material recuperado nos trabalhos arqueológicos sobre a Antiguidade. Uma delas é a reconstituição. A partir de uma ou duas fileiras de pedra e mais alguns vestígios de colunas, podemos recuperar a estrutura de um templo ou de um edifício, desenhando sua planta original e sua configuração em várias dimensões. Podemos também elaborar maquetes.
As imagens apresentadas aqui mostram o que foi possível fazer com alguns vestígios recuperados das escavações no muro construído por Timoleonte, em c. 339 a.C.

  • HOLLOWAY, R. R.; The Archaeology of Ancient Sicily.
Fronteiras > Naturais: rios, topografia, mar

Algumas fotografias representando aspectos da paisagem contemporânea em Gela, na Sicília.

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
Museu > Objeto arqueológico

Este conjunto de peças foi selecionado para que se visualize um pouco alguns tipos de objetos provenientes desta cidade. Observe a singularidade dos vestígios da decoração arquitetônica dos templos gelenses, geralmente produzida em terracota. Chama atenção o uso de górgonas e silenos que eram colocados nos frontões ou em outros pontos dos edifícios sacros.
São profusas as estatuetas femininas usadas como ex-votos, os altares com relevos representando divindades ou cenas míticas, entre outros objetos de uso cultual, assim os de uso cotidiano, como as cerâmicas.

  • LABECA,; Cartão Postal Acervo Labeca
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • MIRO, E. D. (ed.); BRACCESI, L. (ed.); BONACASA, N. (ed.); La Sicilia dei due Dionisî.
  • LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
  • MINÀ, P.; Urbanistica e architettura nella Sicília greca.
Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Localização dos santuários

Há um grupo de áreas sacras fundadas no momento da fundação da cidade: o santuário de Atena Lindia e o de Zeus Atabírios, na acrópole, o de Hera no centro da área de habitações e o Herôon de Antifemos, um dos oikistas de Gela. Todos fundados na primeira metade do século VII a.C. E um outro grupo de áreas sacras que foram fundadas a partir da segunda metade desse mesmo século, em sua maioria externos ao que seria a cinta de muros (os muros ainda não existiam nesse momento) e dedicados às deusas ctônias, notavelmente Deméter e Core: Carrubazza, Via Fiume, Madonna dell'Alemana, Bitalemi, Predio Sola e Piano Camera (cf. a Dissertação de Mestrado de Danilo A. Tabone, 2012).

Nos mapas nota-se a distribuição dos santuários na acrópole (Atenas e Zeus), na área urbana (Hera e Herôon de Antifemos), e na área suburbana (Carrubazza, Via Fiume, Predio Sola e Piano Camera).

  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • HIRATA, E. F. V.; Os Prótomos Femininos de Gela: especificidades e função no quadro da coroplastia siciliota (século VI-V a. C.)
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
Formas de ocupação da ásty > Muros e posicionamento das portas

Muros e Portas

Gela só recebeu uma cinta de muros no final do período arcaico, entre o fim do séc. VI e o início do séc. V a.C., no mesmo momento em que toda a acrópole foi reestruturada e o templo de Atena monumentalizado. Provavelmente foi obra de um dos tiranos, Hipócrates ou Gélon, e certamente teve o objetivo de afirmar o seu poder autocrático.

Em 405 a.C. Gela foi arrasada pelas forças cartaginesas e ficou abandonada até sua reconstrução entre 339 e 338 a.C. por Timolente, quando se ergueu uma nova e poderosa cinta de muros que circundava todo o perímetro da colina, da acrópole até Capo Soprano e Piano Notaro a Oeste. Alguns trechos desse muro ainda são visíveis nos dias de hoje, como se pode verificar nas fotos.

Os muros não fechavam completamente a cidade. Eles eram dotados de portas que muitas vezes serviam para definir funções de áreas específicas da cidade ao interligá-las a estruturas como portos ou ao interior do território. É o caso em Gela, onde um dos estenopos centrais da malha urbana conduzia a uma porta a Norte que continuava como uma estrada que levava à área cultivável.

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FREDERIKSEN, R.; Greek City Walls of the Archaic Period, 900-480 BC (Oxford Monographs on Classical Archaeology)
  • HIRATA, E. F. V.; Os Prótomos Femininos de Gela: especificidades e função no quadro da coroplastia siciliota (século VI-V a. C.)
  • HOLLOWAY, R. R.; The Archaeology of Ancient Sicily.
Técnicas construtivas > Detalhes arquitetônicos

Detalhe arquitetônico.
Os detalhes arquitetônicos aqui apresentados ajudam-nos a compreender como os gregos construíam os seus edifícios. Ainda que as casas pudessem ter apenas a base das paredes feitas de pedra, os edifícios públicos, religiosos ou civis, eram em geral construídos com pedras esculpidas e às vezes acrescidos de detalhes -como as métopas e outras esculturas arquitetônicas- em argila.
Nestas imagens podemos observar como as colunas são montadas a partir de tambores e depois são acaneladas e como os capitéis eram decorados. Há ainda um exemplo de como os edifícios eram decorados com a aplicação de tinta para a elaboração de padrões geométricos ou para a colorização de imagens.

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
Metodologia de pesquisa > Arqueologia do espaço

Em sua pesquisa, a arqueóloga italiana Francesca Veronese (2006) buscou entender o processo de posse do território das pólis sicilianas durante o período arcaico, percebendo a relação entre a religião (e a fundação de áreas sagradas), a realidade topográfica e a dimensão político-religiosa que eles assumiam. Para Veronese o sagrado é central para a análise, o qual ela considera como principal instrumento de comunicação ideológica e de controle político, imprescindíveis na formação de identidades no mundo grego.
Para essa análise, Veronese apoia-se nos conceitos de 'paisagem sagrada' e 'paisagem política', utilizando-se de modelos de investigação do território em Arqueologia: Central Place Theory, Polígonos de Thiessen e Geographical Information System (GIS) - os gráficos apresentados são resultado desses estudos. Este universo teórico é utilizado para a análise dos santuários tanto urbanos quanto da hinterlândia para verificar a hipótese de que a projeção do sagrado sobre o território das pólis responde a critérios de natureza sociopolítica (Veronese, 2006: 26). Os gráficos e tabelas obtidos permitem perceber e avaliar a área de influência de Gela, assim como as relações entre a pólis e os grupos vizinhos, tanto de indígenas (como em Monte Bubbonia) quanto de outros gregos (como em Monte San Mauro, fronteira disputada com Agrigento).

  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
Formas de ocupação da ásty > Espaços funerários: necrópoles, enterramentos aleatórios

Necrópoles na ásty

Em geral a necrópole - o "espaço dos mortos" - situava-se afastada da área de habitações e fora da cinta de muros da área urbana. Estas áreas são sítios arqueológicos de grande potencial como documentos sobre costumes funerários, mas que também permitem inferências sobre aspectos variados da vida de uma comunidade (Hirata, 2009).

A necrópole arcaica e clássica de Gela situava-se na parte ocidental da colina. Durante o período helenístico essa necrópole foi incorporada ao interior da cinta de muros e passou a ser uma área de habitação, quando a nova necrópole passou a estar em uma área ainda mais a Oeste (cf. Orlandini, 1962; Mertens, 2006).

  • HIRATA, E. F. V.; A Cidade Grega Antiga: a Pólis.
  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • MIRO, E. D. (ed.); BRACCESI, L. (ed.); BONACASA, N. (ed.); La Sicilia dei due Dionisî.
  • HIRATA, E. F. V.; Os Prótomos Femininos de Gela: especificidades e função no quadro da coroplastia siciliota (século VI-V a. C.)
  • ORLANDINI, P.; Storia e topografia di Gela dal 405 al 282 a.C. alla luce delle nuove scoperte archeologiche.
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Formas de ocupação da khóra > Espaços funerários: necrópoles, enterramentos aleatórios

Necrópoles na khóra

Há diversas necrópoles espalhadas pela khóra de Gela, como a de Spina Santa, na planície, e escavada por Paolo Orsi, onde o arqueólogo italiano notou a presença grega desde o séc. VII a.C., a qual se adensou durante os séculos VI e V a.C. (Orsi 1932: 137-149), evidenciando que a planície já estava densamente povoada por gregos em conjunto de populações não gregos desde os primeiros tempos de fundação da cidade (Monedero 1989; Muggia 1997: 77)
Mas diversas dessas necrópoles situavam-se no contexto de centros não gregos e que estavam sob a órbita de Gela, como em Montagna di Marzo, Monte Bubbonia, Sabucina, Gibil-Gabib e Monte San Mauro (representada na imagem). Essas necrópoles são interessantes na medida em que apresentam enterramentos da elite não grega feitos em tipo grego, o que implica no consumo por parte dessa elite de um aparato ritual e funerário de origem grega. Tem-se, então, um valioso material para se pensar nas relações entre gregos e não gregos no interior da khóra gelense.

  • ORSI, P.; Gela: Esplorazione di una necropoli in contrada Spina Santa
  • MONEDERO, A. J. D.; La colonización griega en Sicilia: Griegos, Indígenas y Púnicos en la Sicilia Arcaica.
  • MUGGIA, A.; L’area di rispetto nelle colonie magno-greche e siceliote: Studio di antropologia della forma urbana.
  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

A colina de Gela

Durante os períodos arcaico e clássico a acrópole de Gela ficava sobre uma elevação que ocupava toda a parte oriental da plataforma da colina sobre a qual a cidade foi fundada. Na acrópole havia pelo menos duas áreas sacras: o témeno do templo de Atena Lindia (templos A, B e C) em Molino a Vento, onde havia numerosos outros edifícios sacros, conhecidos pela numeração I a VIII; e o témeno de Zeus Atabírios em Molino di Pietro.
A acrópole dominava o mar e a foz do rio Gelas, de onde era possível avistar o santuário de Deméter Tesmofóros (conhecido como Tesmofórion de Bitalemi) que ficava do outro lado rio. E destes locais a acrópole também podia ser vista. Ficava ainda nas proximidades da cinta de muros que cercava toda a colina, construída por Hipócrates e/ou Gélon na mesma época em que a área foi monumentalizada, especialmente com a demolição do templo B e a construção do templo C, que data de fins do séc. VI a.C.

Como afirmou Piero Orlandini, os templos A, B e C e os pequenos edifícios, “pertenciam a um único, grande santuário de Atena Lindia, que ocupava toda a plataforma oriental da acrópole que era, sem dúvidas, o mais antigo santuário de Gela, como demonstra a cerâmica proto-coríntia encontrada nas escavações” (Orlandini, 1968: 29-30). Como se pode notar pelas imagens, a área estava em articulação direta com o plano geral da ásty. É notável que a acrópole não ficava em um plano muito mais elevado com relação às habitações, e a organização da planta urbana fazia com que a platéia central conduzisse diretamente para o Atenaion (templos A e B).

Da acrópole também partia uma das vias que seguiam para o interior da khóra gelense, passando por uma porta nos muros e por um outro santuário, em Via Fiume (também conhecido como santuário da ex-Estação Ferroviária [Scalo Ferroviario]) que se impunha na paisagem para aqueles que vinham do interior em direção à ásty. Este conjunto é interessante para se pensar como as diferentes estruturas da cidade estavam articuladas (Tabone, 2013).

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FREDERIKSEN, R.; Greek City Walls of the Archaic Period, 900-480 BC (Oxford Monographs on Classical Archaeology)
  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
  • LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Formas de ocupação da ásty > Áreas residenciais

Área de habitações

As casas nas pólis gregas eram modestas, distribuídas em ruas mais estreitas, os estenopos, que se cruzavam com as platéias, as ruas mais largas. Em muitas delas, especialmente nas fundadas no Ocidente, como Gela, a malha viária era ortogonal, com as ruas cruzando-se em ângulos retos (Hirata 2009).

A área de habitações dos períodos arcaico e clássico de Gela ficava na parte centro-oriental da plataforma da colina. Além da platéia Leste-Oeste, havia uma série de estenopos que estavam dispostos em acordo com a orientação do templo A da acrópole (Atena Lindia) (Fischer-Hansen, 1996). Essa distribuição da platéia e dos estenopos em relação com a acrópole pode ser observada nos mapas.

Em 405 a.C. Gela foi arrasada pelas forças cartaginesas e ficou virtualmente abandonada até a reconstrução empreendida por Timoleonte entre 339 e 338 a.C., seguindo um plano regular que transformou radicalmente a topografia e a urbanística da ásty arcaica (Orlandini, 1956: 165). Todo o setor ocidental, que correspondia a necrópole arcaica e clássica, tornou-se um novo quarteirão de habitações, assim como a antiga área da acrópole, que deixou de ser uma área sacra - é esta área que aparece nas fotografias. O novo quarteirão foi organizado em um sistema de ruas ortogonais que descia pela encosta da acrópole sobre um sistema de terraços, sempre de acordo com os princípios urbanísticos hipodâmicos (Orlandini, 1956: 166).

  • HIRATA, E. F. V.; A Cidade Grega Antiga: a Pólis.
  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • NEVETT, L. C.; House and society in the ancient Greek world.
  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • FISHER-HANSEN, T.; The earliest town planning of the Western Greek colonies, with special regard to Sicily.
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Conjunto de edifícios na acrópole

Escavações empreendidas nas décadas de 1950 e 1970 ao longo da encosta Norte da colina da acrópole (correspondente ao segundo terraço), então a Norte dos templos B e C, evidenciaram, além da área de habitações da época de Timoleonte (do período Helenístico), os restos dos muros das fundações de quatro templos retangulares com planimetria similar entre si e orientados no sentido Leste-Oeste, todos datados do séc. V a.C. (conhecidos como Grupo 1). As escavações da década de 1970 ainda revelaram traços de outros edifícios (o Grupo 2) do séc. VII e início do VI a.C., alinhados à margem Norte do primeiro terraço e indicados como edifícios I e II (Fiorentini, 1977, p. 105; Veronese, 2006, p. 374). No curso do séc. VI a.C. ainda foram acrescentados os edifícios III e IV. Pouco depois, na metade do séc. VI a.C., os edifícios V, VI, VII e VIII (Fiorentini, 1977).

Os edifícios I e II (Grupo 2) são contemporâneos da primeira monumentalização da acrópole, o templo A e de parte do depósito votivo (Fischer-Hansen, 1997, p. 323). Os edifícios III e IV, e pouco depois, os edifícios V-VIII, são contemporâneos do templo B, que estiveram em uso até o fim do séc. VI a.C., quando toda o conjunto foi abandonado; até a construção do templo C e dos edifícios do Grupo 1 no início do séc. V a.C. Admite-se que esse conjunto de edifícios pode ter assumido funções cultuais ou mesmo como parte da administração do santuário (Tabone, 2012: 94).

  • PANVINI, R.; Gelas: Storia e Archeologia dell’antica Gela.
  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
  • FIORENTINI, G.; Sacelli sull’Acropoli di Gela e a Monte Adradone nella vale del Belice
  • FISHER-HANSEN, T.; The earliest town planning of the Western Greek colonies, with special regard to Sicily.
Formas de ocupação da khóra > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

San Mauro
Monte San Mauro ficava a poucos quilômetros a sul de Caltagirone, e foi sítio de uma vila indígena sobre a qual se desenvolveu, a partir do fim do século VII a.C. um centro grego. O Monte é um complexo montanhoso constituído por um agregado de 5 colinas. A “colina 1-2” é um planalto estreito de 100 x 50 m sobre o qual havia um pequeno templo feito de colunas de madeira, estilobata em pedra e decoração arquitetônica em terracota (antefixos, kalypteres em palmetas). Na “colina 3”, conhecida como “acrópole” , havia um templo maior – inicialmente considerado um anaktorion do século VIII a.C., mas hoje interpretado como um templo arcaico da segunda metade do século VI a.C. Havia ainda uma área de habitação grega com ruas em sistema ortogonal e uma necrópole inteiramente grega datada do século VII a.C. (cf. Tabone, 2012: 168-169).

Piano Camera.
A área era parte de um complexo de habitações de grandes dimensões que servia para abrigar os camponeses que praticavam agricultura na planície de Gela. As imperfeições técnicas no revestimento do templo, assim como a cerâmica de produção local trazem a imagem de ateliês locais – já que em uma área distante da ásty (Panvini, Caminneci 1993-1994: 830 apud Veronese, 2006: 408; Tabone, 2012: 143).

Monte Bubbonia
Em Monte Bubbonia também havia um santuário: em uma área de relevo formada por três plataformas das quais a mais alta alcança os 595m de altura, onde se situa a acrópole – com a construção que constitui a área sacra (Veronese, 2006: 417). O ponto era estratégico no controle das vias de comunicação – os rios Gelas, Maroglio e Salso e a costa mediterrânica: do cume da acrópole era possível avistar a ásty de Gela e grande parte da linha da costa até Camarina, uma apoikia fundada pelos siracusanos a Leste de Gela; ao se olhar para o Norte avistava-se o Monte Navone e Piazza Armerina; a oriente se via Caltagirone; e Butera a ocidente, todos importantes centros indígenas. Em Monte Bubbonia havia ainda um centro anelênico que esteve em contato com os ródio-cretenses de Gela desde o fim do século VII ou início do VI a.C., sendo identificado com Maktorion, citada por Heródoto como sendo próxima de Gela (Hdt. VII, 153), ou ainda com Omphake (Pancucci 1980-81 apud Fischer-Hansen, 2002: 136). A presença de cerâmica não-grega junto de corpos de animais e cinzas indica que o santuário grego sucedeu um local de culto sículo, “boa testemunha da continuidade de culto original nativo na posterior História Grega do sítio” (Fischer-Hansen, 2002: 136). Na segunda metade do século VI a.C. a acrópole foi fortificada com uma muralha de pedra de 5 km, técnica considerada nativa mas que foi empregada pelos assentados gregos, como se pode ver em outros contextos; recebeu um templo (um naiskos) decorado com antefixos de górgonas (kalypter hegemon) de tipo gelense (cf. Tabone, 2012: 162-163; Tabone, 2013). Na metade do século IV a.C. o santuário foi abandonado ao mesmo tempo em que o assentamento.

Sabucina
Sabucina foi ocupada durante parte da pré e proto-história por uma fortaleza ‘sícula’ e, depois, grega na encosta sul da montanha (Orlandini, 1976). Os primeiros contatos com os gregos de Gela aparecem desde o século VII a.C. Mas foi a partir da metade do século VI a.C. que Gela alterou a paisagem do centro indígena com a construção de uma área de habitação em estilo grego e a fortificação com um frúrion (Panvini, 2009: 93-95). Na segunda metade do século V a.C. a área foi reconstruída após a destruição do centro na metade desse mesmo século, mas então sem uma nova área sacra, constituindo-se o assentamento em um centro cujas preocupações defensivas são evidentes.

Feudo Nobile
Em Feudo Nobile, a Leste da ásty de Gela, havia um pequeno santuário campestre. Ficava do lado direito do rio Dirillo (o antigo Achates) sobre a encosta que desce de Punta Vito (que fica sobre o grande vale do rio), a cerca de 50 m acima das fontes locais e não longe de um grupo de cabanas sículas. Esta região fica exatamente na fronteira entre os territórios de Gela e Camarina, onde passava a antiga estrada que ligava Siracusa, Acras e Casmene ao território das duas pólis, Gela e Camarina (Veronese, 2006: 406), o que leva a pensar na relação entre o santuário e a grande disputa entre as duas. A diversidade de argilas encontradas nos materiais dos depósitos votivos evidenciam a diversidade de grupos gregos que aí confluíam, a partir de diversos pontos de Gela e de Camarina (cf. Tabone, 2012: 141).

  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • TABONE, D. A.; O 'indígena' em comunhão com a pólis: o caso do santuário grego no centro indígena de Monte Bubbonia em Gela, Sicília.
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
  • PANVINI, R.; Sabucina: cinquant’anni di studi e ricerche archeologique.
  • ORLANDINI, P.; Storia e topografia di Gela dal 405 al 282 a.C. alla luce delle nuove scoperte archeologiche.
  • FISHER-HANSEN, T.; The earliest town planning of the Western Greek colonies, with special regard to Sicily.
Relacionamento ásty e khóra > Estruturas entre ásty e khóra: muros, necrópoles, santuários.

Áreas sagradas suburbanas

O santuário de Carrubazza, provavelmente dedicado a Deméter, ficava na encosta Norte-ocidental da acrópole, voltada para a planície do interior (Veronese 2006: 385).
Via Fiume (ex-Estação Ferroviária) ficava na encosta Norte da colina de Gela, externo à cinta de muros arcaica, na embocadura da estrada que ligava a ásty ao interior da ilha e que estava ligada ao sistema viário urbano. O santuário "dedicado a Deméter e Core, era avistado à esquerda da entrada da ásty por todos aqueles que nela chegavam vindos da khóra" (Tabone, 2012: 117).

Predio Sola ficava na encosta Sul da colina da acrópole, sobre um pequeno terraço com vistas para o mar. A princípio foi uma área de culto a céu aberto (fim séc. VII-metade séc. VI a.C.) e depois recebeu um pequeno templo (540/30-início séc. V a.C.) dedicado a Deméter e Core, possivelmente em seu epíteto Tesmofóros (Tabone, 2012: 120-21).

O santuário de Madonna dell'Alemanna se situava na margem da planície a Norte de Gela, sobre uma modesta subida de terreno, onde hoje se encontra uma Igreja medieval de Madonna dell'Alemanna (séc. XII). O santuário era um dos maiores entre os 'extra-urbanos' de Gela e era dedicado às deusas ctônias, ligado à estrada que conduzia da colina da acrópole ao interior fértil, os 'campi geloi'.

  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
  • ORLANDINI, P.; Storia e topografia di Gela dal 405 al 282 a.C. alla luce delle nuove scoperte archeologiche.
Relacionamento ásty e khóra > Estruturas entre ásty e khóra: muros, necrópoles, santuários.

O Tesmofórion de Bitalemi
O Tesmofórion de Bitalemi (dedicado a Deméter Tesmofóros) ficava a Leste da colina, além da foz do rio Gelas, em uma curta distância tanto do mar quanto da cidade e quase de frente ao templo dórico da acrópole; sobre uma colina arenosa chamada Bitalemi e que dominava os campos circundantes (Veronese, 2006: 398; Kron, 1992). Entre a metade do séc. VI e o início do V a.C. a área era um santuário a céu aberto, eventualmente com as tendas onde se realizava a festa das Tesmoforías (Kron, 1992); em c. 550/40 a.C. surgem os primeiros edifícios, constituindo uma primeira monumentalização. E na primeira metade do séc. V a.C. os edifícios anteriores já não existiam, substituídos por outros, uma stoa ou léske que não foi completada (cf. Tabone, 2012: 129-133).

  • KRON, U.; Frauenfeste in Demeterheiligtümer: das Thesmophorion von Bitalemi. Eine archäeologische Fallstudie
  • VERONESE, F.; Lo spazio e la dimensione del sacro: santuari greci e territorio nella Sicilia arcaica
  • TABONE, D. A.; Paisagem sagrada e paisagem política: os espaços sagrados de Gela, Sicília – séc. VII-III a.C.
  • ORLANDINI, P.; Storia e topografia di Gela dal 405 al 282 a.C. alla luce delle nuove scoperte archeologiche.