Tasos

Tasos é uma das ilhas do Norte do Egeu, próxima à Macedônia e à Trácia. A pólis foi fundada pelos habitantes de Paros -- uma ilha do Arquipélago das Cíclades -- em torno a 680 a.C., atraídos pelas jazidas de ouro e prata e de mármore existentes na ilha. Alguns anos depois, uma segunda leva de colonos, provenientes também de Paros, dominaram alguns pontos da costa da Trácia. Participaram desta segunda expedição o poeta lírico Arquíloco (fr. 7 e 97 Belles Lettres) e Glaucos, a quem foi dedicado um monumento na ágora de Tasos (BCH 79, p. 76).
A vocação comercial de Tasos pode ser percebida na posição mesma da cidade, situada a nordeste da ilha, voltada para o mar, desempenhando um papel de ponte entre a khóra que se estendia ao sul do núcleo urbano e as suas posses no continente. O domínio do território marítimo circunvizinho lhe deu acesso a uma importante rota comercial que ligava Atenas ao Mar Negro. E suas fundações na costa da Trácia, ainda em época arcaica, funcionaram como portas que se abriram para rotas comerciais terrestres, interioranas, espaço de passagem e de contato com o mundo grego e não grego.
Heródoto (IV, 46-47) e Tucídides (I, 100, 2-3) afirmam que a prosperidade e o poder dos quais gozou Tasos se deviam à exploração das minas de ouro e prata existentes na ilha e no continente, assim como das suas jazidas de mármore. Os relatos de Aristófanes (Pl. 1021) e Xenofonte (Symp. 41), dentre outros autores, recordam a qualidade do renomado vinho produzido em seu território insular e sua exportação para todo o Mediterrâneo é atestado ainda pelos achados de ânforas tásias encontradas em diversas partes até período romano.
Por sua prosperidade, foi alvo de diversas intervenções externas: primeiramente teve de se submeter ao Rei da Pérsia Darius em 492 a.C. (Hdt. VI, 44) e em 477 aderiu à Liga de Delos, permanecendo meio século sob "proteção" do império ateniense (Tuc. I, 101, 3).

Code: TAS
Actual name: Tasos
Original idiom name: Θάσος
Latin name: Thasos
Region: Grécia (Egeu - Norte)
Archaeological site: archaeological site 1
Longitude: 24.717499
Latitude: 40.781943

Media

Reconstituições > Reconstituições

No lado nordeste da ágora, como podemos observar nesta maquete, na segunda metade do século IV a.C. recebeu um pórtico em pi que, por suas características arquiteturais e pela presença de listas de magistrados e textos de leis, parece ter desempenhado uma função judiciária. A noroeste deste pórtico havia um bouleutérion capaz de abrigar cerca de 300 conselheiros. No lado oposto, o Pórtico Oblíquo era composto de três salas para banquetes. Em período helenístico, no lado sudeste, foi construído uma série de lojas e oficinas artesanais. Dois pórticos margeavam a praça, a sudoeste e a noroeste.

  • AA.VV.,; L`espace grec. 150 ans de fouilles de l’École française d`Athènes.
Metodologia de pesquisa > Arqueologia do espaço

A localização da ásty a nordeste da ilha e as várias vias terrestres que garantiam a ligação entre o centro urbano e a khóra garantiam a Tasos um fluxo muito bem organizado de bens e de pessoas entre a ásty com seu porto e as komai que se espalhavam pelo território rural. Neste diagrama de fluxo é possível perceber ainda que a ocupação privilegiou as zonas mais baixas e mais planas do território, que se espalhavam em torno da ilha próximo de sua costa. Além das vias terrestres que cortavam a khóra, a navegação de cabotagem possibilitava ainda uma escoagem mais imediata dos bens a partir de sua área de produção ou de extração até o porto da ásty, como o mármore e os metais, mercadorias mais pesadas.

  • AA.VV.,; L`espace grec. 150 ans de fouilles de l’École française d`Athènes.
Museu > Objeto arqueológico

Exemplar de moldura decorativa exposta no museu de Tasos.

  • HELLMANN, M.; L’ Architecture Grecque. 1. Les principes de la construction.
Técnicas construtivas > Detalhes arquitetônicos

Detalhes arquitetônicos diversos de função decorativa, e detalhes de técnica construtiva de muros.

  • HELLMANN, M.; L’ Architecture Grecque. 1. Les principes de la construction.
Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Apresentação e detalhes estruturais de santuários próximos à ágora em Tasos, e sua relação com a malha urbana do centro.

  • HELLMANN, M.; L’ Architecture Grecque. 2. Architecture religieuse et funéraire.
Formas de ocupação da ásty > Muros e posicionamento das portas

No início do século V a.C. iniciou-se a construção da muralha de Tasos, que marca enfim os limites da cidade antiga. A muralha se estendia por pouco mais de 4 km e englobava uma área muito maior do que a ocupada pelas construções. Ela partia do topo da acrópole, descia até o Promontório de Evraiokastro ao norte, seguindo para a planície costeira a oeste até atingir a costa no Porto Fechado, que era protegido pela sua própria cinta. Foi esta cinta murária que foi parcialmente destruída a mando de Darius, em 491 a.C. Em seguida ela foi restaurada e novamente destruída, desta vez a mando dos atenienses, em 463 a.C., tendo sido mais uma vez recuperada. Deste modo, a cinta murária atualmente visível remonta ao fim do V século a.C.
Várias portas foram abertas ao longo da cinta e nomeados de acordo com algumas divindades, cujo poder apotropaico era evocado na defesa do seu território. Essas portas interligavam os principais espaços da ásty e os conectava às vias que conduziam ao porto e à khóra. Em torno a algumas portas, situadas na zona mais plana, desenvolveram-se habitações e estabelecimentos comerciais, como entre a Porta do Sileno e de Héracles até a Porta de Zeus, ao sul e sudoeste da ásty, e na Porta de Hermes, a nordeste.
O porto fechado, de uso militar, possuía uma sua própria cinta, que se ligava no entanto à cinta murária terrestre e cujo acesso à cidade era feito pela Porta Marítima.

  • FREDERIKSEN, R.; Greek City Walls of the Archaic Period, 900-480 BC (Oxford Monographs on Classical Archaeology)
  • HELLMANN, M.; L’ Architecture Grecque. 1. Les principes de la construction.
  • AA.VV.,; L`espace grec. 150 ans de fouilles de l’École française d`Athènes.
Formas de ocupação da khóra > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Aliki era uma koma de Tasos, localizada na parte sudeste da ilha em uma quase ilha que se ligava ao território insular por um istmo cercado por duas pequenas baías, a sudeste e a sudoeste. Ali se localizava uma importante jazida de mármore, que produzia uma qualidade utilizada principalmente na arquitetura.
Um santuário, provavelmente dedicado a Apolo, foi instalado próximo da baía oriental, na metade do século VII a.C., pouco depois da chegada dos colonos de Paros à ilha. Embora não se conheça em toda a sua totalidade, foram escavados dois edifícios de planos idênticos, separados por uma via no sentido leste-oeste. A presença da eschara em ambos os edifícios atestam que não se tratavam de templos, mas de edifícios destinados a acolher os fiéis, realizar banquetes e sacrifícios. O santuário, que permaneceu ativo até período romano tardio, manteve a sua vocação marítima, como atestam os nomes de marinheiros de passagem inscritos em graffiti na fachada do edifício norte, e os votos de boa navegação (εὔπλοια) às embarcações que vêm buscar o carregamento de mármore sobre bases de esculturas. De fato, um documento epigráfico datado no século II-III d.C. faz referência a um ritual tradicional dos magistrados de Tasos a Apolo Komaios: eles faziam a volta da ilha em barco, paravam em Aliki para uma visita oficial e para realizar os sacrifícios aos deuses e agradecer à boa navegação. (Salviat; Bernard 1967 : 585-7, n. 32)

  • HELLMANN, M.; L’ Architecture Grecque. 2. Architecture religieuse et funéraire.
Formas de ocupação da ásty > Áreas residenciais

Alguns esquemas de edifícios residenciais de Tasos, em especial do bairro próximo à Porta de Sileno, ao sul da muralha da cidade.
O primeiro vestígio de ocupação da zona habitacional da Porta do Sileno data da segunda metade do século VI a.C. Nesta primeira estrutura funcionava uma oficina de refino de bronze e de produção de peças nesta liga, além de uma ourivesaria.
No século V a.C., outras unidades habitacionais foram construídas de um lado e do outro de uma via que surgiu obliquamente à muralha, e que determinou a abertura da Porta do Sileno neste ponto dos muros. No lado leste desta Via da Porta do Sileno, situavam-se estabelecimentos comerciais compostos por um só recinto; no lado oeste, foram erguidas três habitações, duas das quais abriam-se para a Rua da Muralha, compostas por um e por dois recintos. A que se abria para a Via da Porta do Sileno era mais ampla e tinham dois pequenos recintos e um pátio que se abria para uma grande sala. Em torno a 420 a.C., esses blocos I e II são ampliados no sentido norte e duas ruas que corriam no mesmo eixo da Via da Muralha passam a separar os novos blocos III e IV.
A rua que margeava a muralha a separava das casas e ao norte este eixo duas outras vias separavam os seus quarteirões.

  • NEVETT, L. C.; House and society in the ancient Greek world.
  • AA.VV.,; L`espace grec. 150 ans de fouilles de l’École française d`Athènes.
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

Caracterizada pelo contraste entre um centro montanhoso e suas planícies litorâneas periféricas, a instalação do centro urbano ao norte da ilha, de frente para o continente, reflete uma escolha consciente dos colonos em relação à distribuição dos seus diversos espaços. A articulação entre as diversas partes da ilha, com a presença de vias que ligavam estes diversos espaços, por mar ou por terra, pela costa e pelo interior, é parte de um disciplinamento do espaço resultante da vocação agrícola e mercantil de Tasos, e que possibilitou o fluxo da sua produção em direção à cidade e ao seu porto. Como podemos observar a partir deste mapa, a ásty, que se encontrava a nordeste da ilha, era interligada por meio de estradas às komai que se distribuíam ao redor da ilha, e que garantiam o fluxo da produção e o acesso entre a cidade e os santuários da khóra. As propriedades rurais se espalhavam nas partes mais baixas da ilha, e próximas a elas encontravam-se as oficinas cerâmicas onde eram produzidas as ânforas com as quais o vinho de Tasos seria comercializado. Na costa, foram construídos diversos faróis, que guiavam a navegação de cabotagem praticada na ilha, assim como fortes, que garantiam mais proteção ao seu território.
Na Estela de Aliki, uma inscrição epigráfica datada na metade do século V a.C. e publicada em 1964 pelos estudiosos franceses Fr. Salviat e J. Servais, são indicados os três pontos extremos da ilha e as distâncias entre eles: a distância entre o centro urbano e Aliki, passando por Ainyra (onde se encontra uma importante jazida de mármore); de Aliki até o Diaison, referente ao Santuário de Zeus (Diaison), em Demetrion; e por fim, entre o Diaison até a cidade, pela costa. Além da articulação e circulação existentes entre os pontos extremos da ilha,através desta via circular que abarcava todo o território, a inscrição sublinha a importância desempenhada pelos santuários rurais, extra-urbanos, localizados na extremidade sul da ilha, como pontos de unificação do território e de integração da população que vivia na khóra e na eschatia insular.

A cidade grega era dotada de dois portos, o porto aberto, destinado ao comércio, e o porto fechado, de uso militar. Não temos informações seguras sobre a instalação e o modo de vida dos primeiros colonos. De qualquer modo, observa-se que muito cedo já havia sido definido o espaço onde seriam instalados os principais santuários da cidade: o Pythion e o Athenaion, sobre a acrópole, e nas partes mais baixas das encostas da acrópole, o Artemision e o Herakleion. Estes pontos serviram desde o início como referências na organização do espaço da asty e próximos deles desenvolveram-se as primeiras zonas de habitação: no setor nordeste, próximo do Artemision, e no setor sudoeste, próximo do Herakleion, ligados entre si por uma grande via arterial.
No final do século VI a.C., ao norte, no cabo de Evraiokastro, foi construído o que pode ser identificado como o Santuário de Deméter e Kore -- em uma área que poucos anos mais tarde seria mantida fora dos muros da cidade --, cujo templo foi reutilizado como igreja paleo-cristiana no V ou VI século d.C.
A ágora não é conhecida arqueologicamente nos primeiros anos da colônia. Entretanto, na Estela do Porto, um documento epigráfico publicado em 470-60 a.C., sabe-se que nesta data já existiam um pritaneu, uma sala de banquetes e uma casa de câmbio (άργυραμοιβήϊον) -- esta é a primeira referência na epigrafia grega a uma palavra que se refira a um edifício desta natureza. A propósito, nesta Estela já estão presentes as vias que margeiam a ágora e que dá forma à praça de época clássica: a rua do Santuário das Chárites, que liga o Herakleion ao Artemision e que margeia a ágora a sudeste; a rua que passa pelo pritaneu, cuja posição ainda é objeto de discussão, mas que certamente se articula com a do Santuário das Chárites; e enfim a rua que se estende do Herakleion ao mar, que mesmo que não tenha sido ainda identificada, certamente conduzia à Porta do Peixe.
No IV século a.C., uma reorganização política, religiosa e econômica da cidade resulta em uma reestruturação urbana, com a realização de obras públicas e privadas, muitas das quais feitas às custas dos ricos benfeitores thásios e estrangeiros, como atestam as inscrições. É neste momento que a forma da ágora se fixa a partir de uma orientação já definida desde o século VI a.C. São construídos na praça pública o Santuário de Zeus Agoraios, o Edifício a Paraskenia, o Edifício Nordeste, o Pórtico Noroeste, o Edifício em Tufo, e no lado sudeste, ao longo da grande artéria, um pórtico reunindo as lojas, as oficinas e provavelmente os núcleos de habitação.

  • SCHODER, R. V.; Ancient Greece from the Air.
  • AA.VV.,; L`espace grec. 150 ans de fouilles de l’École française d`Athènes.
  • CUNLIFFE, B. (ed.); OSBORNE, R. (ed.); Mediterranean Urbanization 800-600 B.C.