Tarento

Tarento é uma apoikia fundada em 706 a.C. de acordo com a tradição histórica (Eusébio, Chron., 91), sua origem está na Lacônia, região localizada ao sul do Peloponeso em que Esparta era a capital. Os fundadores dessa cidade foram um grupo de exilados de Esparta após o fim das Guerras Messênias, chamados de "Parteni". Existem diferentes versões sobre a origem desses homens, porém todas mostram que seu não direito à cidadania e seu status de subordinados os levaram a começar uma rebelião. Segundo o relato de fundação, assim que essa revolta foi controlada e para conter também uma possível crise decidiu-se enviar um de seus líderes para consultar o oráculo de Delfos, este definiu que a colonização deveria se iniciar na terra fértil de Tarento, porém já apontou que consequentemente eles teriam conflitos com a população nativa. Foi uma apoikia muito importante no sul da Itália, porto estratégico de parada entre a Grécia e o Ocidente devido a sua localização no mar Jônico. Em inúmeras ocasiões Tarento assumiu uma posição de liderança entre os gregos da Magna Grécia, essa região era marcada por diversos conflitos, tanto entre as próprias cidades gregas como entre estas mesmas apoikias e as ocupações nativas não-gregas anteriores a ocupação. Sua época de maior apogeu (cultural, econômico e militar), entretanto, foi o século IV a.C, após uma grande expansão no século anterior, Tarento passa por um replanejamento urbano após a substituição do poder aristocrático pela democracia. Posteriormente, chegou inclusive a ficar à frente da Liga Italiota porém transferiu sua posição para sua apoikia secundária Heracleia. Liderou a revolta final contra os romanos a quem teve que se submeter junto com todas as cidades gregas da Magna Grécia em 272a.C.

Code: TAR
Actual name: Taranto
Original idiom name: Τάρας
Latin name: Tarentum
Region: Itália (sul) (Calábria)
Archaeological site: archaeological site 1
Longitude: 17.239999
Latitude: 40.469166

Media

Formas de ocupação da ásty > Muros e posicionamento das portas

Tarento foi cercada por um circuito de 10km de muralha no século V. Do lado leste, a muralha ia reto do Mare Piccolo ao Mare Grande, passando por cima de antigas tumbas do século VI (Lo Porto, 1970: 362-4) (Florenzano, 2006: 53).

  • JULIIS, E. M. D.; Taranto.
Formas de ocupação da khóra > Áreas residenciais: vilas, fazendolas

A ocupação precoce e o uso sistemático da khóra por essa colônia grega estabelecida nas localidades rurais são exemplificados pela recente descoberta da fazenda “L’Amastoula” a cerca de 14 km a noroeste de Taranto. Em uma colina com vista para a planície costeira fértil, havia um local fortificado através de uma parede poderosa em aterro, instalado logo após a fundação da apoikia, que certamente durou desde o segundo quartel do século VII a.C. até as primeiras décadas do século seguinte, pelo menos a julgar pelos achados (materiais) da área habitada e da necrópole. Percebeu-se que os homens daquela região viveram primeiro em casas unicelulares rectangulares, com apenas pouco mais de 10 m2. A paredes eram altas e sua fundação era feita de cacos líticos misturados em blocos como material de preenchimento; além de serem construídas com tijolos de barro o teto era de palha. Na casa "b", que é acessível através de uma porta do lado direito como mostra sua planta, manteve-se a "decoração" interna, feita de pedra na parede traseira, na lareira e ao lado; essa área de habitação foi integrada ao jardim da frente, em parte pavimentado e cercada por muros, onde provavelmente ocorriam a maior parte das tarefas diárias. Em um ambiente de 3,6 m2, no canto sudoeste do pátio, era onde provavelmente ocorria o repararo das ferramentas de trabalho; havia também uma plataforma de alvenaria sólida grande de 2,7 x 3 m, podendo ter também uma ligação com as atividades domésticas. O lote inteiro (oikópedon) tinha em sua totalidade o tamanho de 120 m2 e correspondia exatamente à uma unidade de terra característica da khóra de Tarento.

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

O templo arcaico, dórico da piazza Castello em Tarento posiciona-se exatamente na entrada da pequena ilha, que tem acesso à cidade arcaica. Seu posicionamento é muito semelhante ao do templo de Apolo em Siracusa. É templo dórico, e sua construção data do início do século V a.C. É o templo dórico mais antigo, que foi encontrado em toda a Magna Grécia. Suas estruturas encontram-se hoje associadas às estruturas modernas da cidade. Nada se sabe da divindade a que era dedicado. Popularmente se diz que era a Posidão, mas há quem diga que foi dedicado a Apolo e Ártemis, a Perséfone ou ainda a Afrodite.

  • FLORENZANO, M. B. B.; A contribuição das colônias ocidentais na construção da identidade poliade: subsídios do uso e da organização do espaço.
  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
Fronteiras > Naturais: rios, topografia, mar

Na Tarento atual vemos que o istmo que unificava o território da cidade não existe mais, hoje em dia a área foi tomada pelo Mare Piccolo após ter sido transformada em um canal navegável, formando uma ilha na parte Oeste da península. Entretanto, ainda é possível ver o traçado feito na antiguidade na malha urbana atual, mais especificamente o traçado de ruas com uma platéia principal que cruzava todo o território e as estenopes que a cruzavam em sua extensão, essa malha fica mais evidente nesta ilha, sendo essa área chamada inclusive de "cidade velha".

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
Fronteiras > Marcadores: horoi, frúria, santuários, portos.

O território de Tarento era rodeado por pequenos assentamentos gregos fortificados, havia enterramentos nas colinas próximas que logo após a fundação da cidade foram ocupados por santuários (possivelmente delimitavam a khóra), entretanto nenhum desses espaços foi identificado como certamente pertencente a Tarento, porém é possível afirmar que em pouco tempo foram agrupados junto ao território dessa cidade. Sua história é marcada por diversos conflitos com gregos e não-gregos na região, mostrando que as disputas pelo controle territorial eram frequentes na Magna Grécia ao longo do período clássico, além do fato de que Tarento se estabeleu em um território pertencente a uma comunidade não-grega anteriormente. A cidade estava localizada em uma posição bastante estratégica, em uma península muito estreita entre o mar Jônico (Mare Grande) e uma lagoa chamada Mare Piccolo onde havia um porto interno famoso na Antiguidade (Estrabão, 6, 3, 1). Era o único porto natural de todo o Golfo de Tarento e fundamental do ponto de vista econômico para esta polis (Tarento era conhecida por ser uma potência comerciante e exportadora de púrpura pescada em seus mares). Do lado leste do núcleo urbano, a 12 km dos muros, foi localizado o pequeno assentamento de Satyrion, cuja ocupação data desde o século VII e que deveria estar incluído no território tarentino. Ali foi encontrado um santuário arcaico dedicado a Atena. Nas imediações também foi encontrado um outro pequeno santuário de época clássica dedicado a alguma divindade feminina. A 14km a noroeste de Tarento, na localidade L'Amastuola, também foi encontrado outro assentamento, datado do século VII, que deveria marcar as fronteiras da polis nesta direção. Ali, além das habitações e da necrópole foi encontrada uma série de pequenos santuários dedicados a Ártemis (Florenzano, 2006: 53-54).

  • FLORENZANO, M. B. B.; A contribuição das colônias ocidentais na construção da identidade poliade: subsídios do uso e da organização do espaço.
  • HANSEN, M. H. (ed.); NIELSEN, T. H. (ed.); An Inventory of Archaic and Classical Poleis.
  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • JULIIS, E. M. D.; Taranto.
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

Do século VIII ao V, o núcleo urbano de Tarento ocupa um total de 16 hectares e mais uma estreita faixa em terra firme no lado leste (Lo Porto, 1970: 362; Cerchiai et alii, 2004:148). A área da península, hoje separada da terra firme do lado leste, era na antiguidade unida a ela por meio de um istmo (porção de terra estreita que conecta duas grandes extensões, envolvida por água dos dois lados). Desta época foram encontradas inúmeras fazendolas espalhadas pelo território mostrando um tipo mais disperso de assentamento. Entretanto, a partir do segundo quartel do século V registra-se um despovoamento relativo do território e uma urbanização mais intensa em toda a parte de terra firme a leste da pequena península (Greco 1990, 33). As fazendolas mais distantes são abandonadas e as que permanecem estão na faixa mais próxima do núcleo urbano. O espaço agrário só se tornará mais densamente povoado a partir do século IV mais adiantado. No século V, com a urbanização da parte a leste da península, a cidade velha transforma-se em ‘acrópole’ de Tarento, reunindo os edifícios sagrados como o famoso templo dórico da Piazza Castello, logo na entrada da península, e as fundações de outro enorme templo do lado oeste da península (Lo Porto, 1970: 376) e recebendo uma muralha própria. (Cerchiai et alii, 2004: 148) A nova área urbanizada recebeu também nessa época todo o seu perímetro de 530 hectares amuralhado. Os cemitérios arcaicos ficaram por baixo desta muralha ou foram incorporados no interior do circuito urbano. Novos áreas de necrópoles foram criadas fora dos muros no século V.
Na península, a malha urbana data do século VII e está constituída por uma grande platéia (rua larga; hoje a Via Duomo) atravessada ortogonalmente por vários stenopoi (rua estreita) (Lo Porto, 1979:361-362). Na ‘cidade nova’ a planta traçada no século V era ortogonal e vários trechos dessas ruas foram descobertos por baixo dos edifícios modernos. Sabemos um pouco mais sobre esta malha através do relato de Políbio (10.1) que menciona a existência de duas artérias principais em Tarento: a rua ‘de baixo’ e a rua ‘do salvador’. Segundo ele, esta última ia dos muros a leste até a ágora e estava ligada em ângulo reto ao istmo da cidade velha. Tarento foi cercada por um circuito de 10km de muralha no século V. Do lado leste, a muralha ia reto do Mare Piccolo ao Mare Grande, passando por cima de antigas tumbas do século VI (Lo Porto, 1970: 362-4) (Florenzano, 2006: 53).

  • FLORENZANO, M. B. B.; A contribuição das colônias ocidentais na construção da identidade poliade: subsídios do uso e da organização do espaço.
  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • BORRIELLO, M. R.; RUBINO, P.; La Magna Grecia.
  • JULIIS, E. M. D.; Taranto.
  • LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
Museu > Objeto arqueológico

As imagens das moedas de Tarento remetem para episódios míticos da fundação da cidade. Uma das tradições conta que em Esparta, durante as guerras da Messênia, as mulheres acabaram por parir filhos fora do casamento. Estas crianças, mais tarde, quando adultas foram expulsas da cidade e Falanto, o seu líder, tendo consultado o oráculo de Delfos partiu para fundar uma nova apoikia. O local, Taras, recebe esse nome por conta do herói do mesmo nome, filho de Posidão e Satyra, ninfa local. Outra tradição relata que o próprio Taras teria fundado a cidade no local onde fora deixado por um golfinho enviado por seu pai, Posidão para salvá-lo de um naufrágio.

Metodologia de pesquisa > Arqueologia do espaço

É interessante observar nessa cidade que ainda hoje são encontrados vestígios de diferentes épocas e ocupações em seu território, ao circular pela atual Tarento encontramos estruturas e marcações que vão desde a antiguidade, passando pela Idade Média e chegando aos dias de hoje. Um exemplo disso seria o "Templo de Poseidon", em que restaram duas colunas preservadas, uma outra coluna tombada e parte do peristilo da estrutura datada de 575 a.C., acredita-se tratar de um templo arcaico dórico, e que hoje em dia está rodeado por construções de diferentes épocas e integradas a cidade atual.

  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
  • CARRATELLI, G. P. (ed.); The Greek world: art and civilization in Magna Graecia and Sicily.
  • STILLWELL, R. (ed.); The Princeton Encyclopedia of Classical Sites.
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

Estrabão relata que a ágora de Tarento (e fórum romano) era enorme, maior do que qualquer outra: “ágora eumegethes”. Ela estava fora da cidade velha, com toda probabilidade nas proximidades do istmo, do lado do Mar Jônio (VI,3,1), mas a sua exata localização não foi ainda determinada. Foi encontrada uma estrutura de degraus nessa área, por vezes interpretada com parte de um buleutério ou de um teatro (Inventory, 2004: 301) Políbio menciona o teatro que no século III foi usado para a recepção de embaixadores romanos (8,30,7) Um pritaneu é mencionado pelas fontes antigas também (Inventory, 2004: 301) (Florenzano, 2006: 54).

  • FLORENZANO, M. B. B.; A contribuição das colônias ocidentais na construção da identidade poliade: subsídios do uso e da organização do espaço.
  • HANSEN, M. H. (ed.); NIELSEN, T. H. (ed.); An Inventory of Archaic and Classical Poleis.
  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
Formas de ocupação da khóra > Espaços funerários: necrópoles, enterramentos aleatórios

Algumas das áreas de enterramento de Tarento foram identificadas ao redor do território da atual cidade, abrangendo a vida na região do século VII a.C. ao II d.C.. Lembremos que Tarento continuou sendo importante porto durante época romana. A maioria consistia em trincheiras retangulares abertas ou em rochas, ou construídas com blocos e cobertas com lajes de pedra. As tumbas estavam concentradas nas atuais Santa Lucia, Arsenal, Fondo Tesoro e Vaccarella. Para caracterizar sua necrópole partimos de um sítio na atual Via Marche onde se descobriu tratar-se de uma área usada para propósitos funerários no período arcaico e parte de uma reorganização urbana durante o século V a.C., quando foi dividido por ruas em blocos. A expansão da grade urbana no século V a.C. passou por cima do cemitério arcaico que teve que ser deslocado. Com esses lotes, as tumbas foram rearranjadas entre as famílias até o século III a.C.. Entretanto, da primeira metade do século IV a.C. até o século II a.C. foram colocados pequenos templos ou capelas (naiskoi) nas tumbas, para conter o processo de deterioração das estátuas. Eles eram decorados com elaborados adornos (frontões, frisos, métopas) que demonstravam as técnicas de esculpir da época, tratava-se de um estilo bastante rico em movimento e expressivo. As cenas representadas nesses espaços variavam, porém era comum o uso de temas propriamente funerários ou de batalhas.

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • HELLMANN, M.; L’ Architecture Grecque. 2. Architecture religieuse et funéraire.
  • JULIIS, E. M. D.; Taranto.
  • LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.