Lócris

Lócris Epizefiri está localizada nos distritos de Locri e de Portigliola na região da Calábria banhada pelo Mar Jônico. A forma completa do nome da pólis é oi Lokroi oi epizephyrioi, uma forma plural que corresponde ao nome dos habitantes, portanto, os lócrios que habitam o Zefírio. De fato, a pólis foi instalada na área do Cabo Zefírio (atual Cabo Bruzzano), chamado assim porque o alto penhasco ali protegia do Zéfiro, o vento de Ocidente (Costamagna; Sabbione, 1990: 32-33).
A pólis foi fundada por gregos vindos da Lócrida, região localizada na atual Grécia Central. A cronologia da fundação de Lócris é controversa, pois as fontes literárias conservaram duas diferentes tradições: uma remonta a Eusébio, que indica o ano de 673 a.C., e outra a Estrabão quem diz que Locri foi fundada pouco depois de Siracusa (c. 733 a.C.) e de Crotona (710 a.C.), portanto no final do século VIII a.C. A descoberta de alguns aríbaloi nas necrópoles de Lucífero e Parapezza - provenientes de Corinto e datados de 700 a.C. - situou a fundação de Locri no final do século VIII a.C. (Costamagna; Sabbione, 1990: 32).
O território de Locri consistiu na área entre os rios Sagra e Halex, que respectivamente marcaram a fronteira norte com Caulônia e a sul com Régio. A área habitada ocupou a faixa de uma planície costeira e de uma zona colinar caracterizada pelas colinas de Castellace, Abadessa e Mannella separadas por vales que as cortam longitudinalmente (Cerchiai, 2004: 95). Estas colinas ao fundo da planície costeira asseguravam boas condições de defesa para toda a área urbana e as suas encostas abundantes em nascentes de água, tornaram Locri uma das cidades mais ricas em água da costa jônica (Costamagna; Sabbione, 1990: 43).
A área foi previamente ocupada por uma população de nativos, os sículos, como comprova o assentamento da Idade do Ferro (século IX-VIII a.C.) na região de Contrada Janchina. No tempo da fundação grega a população nativa teria abandonado este assentamento e movido-se para o interior.

Code: LOC
Actual name: Locri
Original idiom name: Λοκροί Ἐπιζεφύριοι
Latin name: Locri
Region: Itália (sul) (Bruttium)
Archaeological site: archaeological site 1
Longitude: 16.250277
Latitude: 38.219721

Media

Técnicas construtivas > Detalhes arquitetônicos

Cada detalhe arquitetônico presente nos edifícios das cidades gregas (templos, casas, stoai, etc) nos informam sobre técnicas de construção e proporcionam elementos para datar, muitas vezes com precisão, o período a que pertencem. O modo em que os grampos de ferro ou bronze foram empregados para unir os blocos do estilóbato de um templo, pode ajudar a datar um edifício sobre a qual não possuímos nenhum outro elemento a não ser as suas fundações e o seu estilóbato. A base e a quantidade de caneluras em uma dada coluna, da qual não restou os tambores superiores e capitéis, também informam sobre a ordem do templo.

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

Planimetria da pólis e o seu território
A pólis, da colina à costa, ocupou uma área de cerca de 230 hectares.
A parte baixa do assentamento de Lócris, portanto onde ocorreu a estruturação do assentamento urbano, data da metade do século VI a.C., enquanto o setor colinar foi ocupado esporadicamente, permanecendo grandes áreas selvagens. A implantação urbana se articulava em três eixos principais, com duas plateiai paralelas à costa orientadas norte/sul e uma ortogonal leste/oeste que ligava a costa a zona colinar. As duas plateiai paralelas foram reconhecidas no terreno do bairro de Centocamere e na estrada chamada Dromos (Greco, 2008: 141). O Dromos dividia a cidade baixa da zona colinar e terminava no lado oeste em um dos portões da pólis. A estrada, hoje asfaltada, atravessava a cidade em toda a sua largura e deve ter sido construída ao longo da rota de uma antiga artéria (Cerchiai, 2004: 96; Greco, 2008: 150).
Em Lócris Epizefiri não foram encontrados os edifícios públicos ligados às atividades de assembléia, de discussão, tais como o buleutério, o pritaneu e o eclesiastério. Infelizmente a ágora não foi ainda localizada e é possível que estivesse na região do Dromos ou aos pés das colinas vizinhas, mas a presença de edifícios modernos e a intensa cultivação na área impedem as pesquisas para resolver este que é o aspecto mais obscuro da articulação da cidade (Costamagna; Sabbione, 1990: 62).
As evidências mais antigas do uso do espaço foram encontradas nas necrópoles. Situadas fora dos muros (o padrão grego de enterramento), as pesquisas localizaram quatro necrópoles de época grega, sendo o material mais antigo proveniente das necrópoles de Lucífero, de Parapezza e de Monaci, todas pertencentes ao setor nordeste da pólis. Na de Lucífero e de Parapezza as sepulturas datam a partir de 700 a.C. e em Monaci datam ao menos de 680 a.C. Estas necrópoles possuem enterramentos do período arcaico ao período helenístico. No setor sudoeste da cidade, próximo ao rio de Portigliola, há uma única necrópole grega, a de Tribona, onde foram encontradas sepulturas datadas a partir do século V a.C. As necrópoles a nordeste eram separadas da área urbana por um curso d´água que passava retilíneo aos muros, recolhendo a água do Vallone Saitta. Provavelmente, as necrópoles de Lucífero e Parapezza, mais próximas à costa, estavam relacionadas a uma estrada que saía da porta úrbica, situada próxima ao santuário de Marasà.
Os santuários de Lócris se concentram no lado sudeste, leste e nordeste; não foram localizadas áreas sagradas no setor ocidental da pólis. São sete os principais santuários e situam-se ao longo dos muros da cidade, dentro ou fora, formando um cinturão sagrado (Cerchiai, 2004: 100). Os três santuários mais conhecidos, e urbanos, são o de Marasà (sudeste), o de Casa Marafioti e o de Atena em Manella e estão posicionados na margem norte-oriental da cidade, quase a significar uma função de controle sagrado e de proteção dos limites da área urbana, como é pensado no caso de Agrigento. Outros santuários possuem posição suburbana, estão na parte externa dos muros a uma curta distância deles, como é o caso do santuário de Perséfone em Mannella e o de Grotta Caruso no setor norteste, e os de Afrodite, de Deméter e de Zeus Saettante no setor sudeste (Costamagna; Sabbione, 1990: 63).
As regiões do porto, do teatro e das colinas (Mannella) - sempre ao longo dos muros - foram os locais escolhidos para a construção dos santuários (Laky, 2013: 110).

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FREDERIKSEN, R.; Greek City Walls of the Archaic Period, 900-480 BC (Oxford Monographs on Classical Archaeology)
  • HELLMANN, M.; L’ Architecture Grecque. 2. Architecture religieuse et funéraire.
  • SERAFINO, C.; Locri Antica e il suo territorio.
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  • LAKY, L. A.; Olímpia e os Olimpieia: a origem e difusão do culto de Zeus Olímpio na Grécia dos séculos VI e V a.C.
  • COSTABILE, F. (ed.); Polis ed Olympieion a Locri Epizefiri.
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
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  • SABBIONE, C.; COSTAMAGNA, L.; Una città in Magna Grecia. Locri Epizefiri: Guida Archeologica.
Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Santuário de Afrodite em Marasà
Em Marasà situa-se um santuário urbano com um templo de várias fases de construção, provavelmente dedicado à deusa Afrodite. O templo jônico de Marasà, como ficou conhecido, sofreu diversas depredações, ao longo do século XIX, até serem realizadas as primeiras escavações sistemáticas por Paolo Orsi e E. Petersen entre 1889 e 1890 e A. De Franciscis entre 1955 e 1959. No final do século XIX, P. Orsi e E. Petersen escavaram os restos do templo arcaico e do sucessivo templo jônico e no século XX De Franciscis ampliou a escavação, revelando os altares do santuário e a parte vizinha dos muros com a porta e a torre (Costamagna; Sabbione, 1990: 149).
A primeira fase da construção do templo remonta ao final do século VII e início do século VI a.C. Os restos desta época revelaram um edifício de cela longa e estreita, que media 22 x 8 metros, com um pórtico de entrada para o pronaos, construído com blocos de arenito. Os muros internos foram feitos com tijolos de barro e a entablamento e as colunas eram de madeira. O interior da cela foi alinhado com blocos de terracota pintados com motivos geométricos. Uma terracota similar também protegia o telhado, que tinha beirais (simas) decorados com motivos trançados. Na segunda fase (terceiro quartel do século VI a.C.), o templo foi reconstruído com madeira e tijolos de barro, e as fundações foram feitas com blocos de calcário. O interior da cela, parcialmente modificado, tinha uma fileira de blocos quadrados que serviam como base para as colunas e para o opistódomo com uma fachada de quatro colunas. No opistódomo, também, deve ter havido uma fachada similar no lado oposto, o qual dava acesso ao pronaos. Ao redor da cela havia uma colunata (perístasis) de cerca de 17 x 35 metros, da qual permaneceu apenas parte da fundação. Nesta fase o templo possuía 6 x 14 colunas e o telhado era coberto de telhas em terracota policroma similares aquelas usadas na Sicília neste período (Cerchiai, 2004: 100). A área ao redor do templo era ocupada no ângulo sul por três embasamentos de dedicações e duas fundações provavelmente pertinentes aos altares (Greco, 2008: 144).
Em aproximadamente 480-470 a.C. este templo foi demolido e reconstruído a partir de uma orientação diferente, muito semelhante ao posicionamento do templo em relação ao centro urbano usado em Metaponto e Posidônia. O novo edifício foi construído com um tipo de calcário possivelmente de Siracusa, era de ordem jônica, as fundações mediam 19 x 45 metros e o estilóbato 17,31 x 43,70 metros. A perístasis de 7 x 17 colunas circundavam a cela com pronaos e opistódomo com duas colunas in antis. O achado de rochas de colunas de formato menor levou-se a pensar que o pronaos poderia ter duas fileiras de colunas. Da elevação do templo restaram os fragmentos de coluna, com 24 caneluras e decoração de palmetas com flores de lótus, e fragmentos de capitéis e cornijas com sima com cabeças leoninas e motivos florais em pedra, que foram substituídas ao longo do século IV e III a.C. e algumas delas reutilizadas nas fundações da Casa dos Leões. Os resquícios de cores encontrados nestes fragmentos sugerem que as partes arquitetônicas do templo eram pintadas em vermelho, azul e verde (Cerchiai, 2004: 100; Greco, 2008: 145). Com relação à cronologia do templo, a datação de 480 a.C. se baseia no acrotério de mármore que possui a representação dos Dióscuros ao lado de uma Nereida (ou Afrodite) que sai do mar. A datação do acrotério foi possível a associação dos elementos decorativos encontrados na parte posterior do templo e que pertencem a uma época sucessiva à edificação, portanto do final do século V a.C.
Um importante elemento do culto – útil na identificação da divindade venerada no templo – era o bóthros relacionado a rituais ctônicos e que após várias fases de sobreposição dos edifícios se localizou na área da cela do primeiro edifício arcaico. Uma das hipóteses diz que o templo não foi construído para abrigar a estátua de culto, mas para celebrar o ritual do nascimento de Afrodite ao redor do bóthros. Segundo a hipótese mais recente, o parapeito deste bóthros era o famoso Trono Ludovisi. Trata-se de três painéis em mármore, datados entre 460 e 450 a.C., em que o principal painel tem a representação do nascimento de Afrodite emergindo do mar entre duas ninfas que seguram um véu na parte de baixo do corpo da deusa. O painel esquerdo ao principal possui a representação de uma heitaira tocando flauta e o direito uma mulher coberta queimando incenso (Cerchiai, 2004: 101; Greco, 2008: 147-148).
O altar retangular, pertencente ao templo jônico, está posicionado a leste e é datado do século V a.C. Desta época também pertence uma stoá construída perto do muro para abrigar os fiéis. Na área de Marasà, o depósito votivo contendo terracotas de figuras femininas (século VI e V a.C.) e tipos de skyphoi (século V a.C.) pode ter sido criado para liberar o santuário de Marasà de oferendas muito numerosas, mas também pode ser que este depósito tenha pertencido a um local de culto ainda não localizado no limite externo da cidade (Costamagna; Sabbione, 1990: 150).

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • BORRIELLO, M. R.; RUBINO, P.; La Magna Grecia.
  • GRECO, E.; Magna Grecia: Guide archeologique Laterza
  • JULIIS, E. M. D.; Magna Grecia: L’Italia meridionale dalle origini leggendarie alla conquista romana.
  • COSTABILE, F. (ed.); Polis ed Olympieion a Locri Epizefiri.
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
  • LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.
  • SABBIONE, C.; COSTAMAGNA, L.; Una città in Magna Grecia. Locri Epizefiri: Guida Archeologica.
Formas de ocupação da khóra > Posicionamento em relação à área murada

Atualmente, grande parte da área da antiga pólis é esporadicamente habitada por casas rurais modernas. Ao norte de seu território, está a cidadela medieval de Gerace Superiore, onde seus moradores reaproveitaram as pedras de edifícios da cidade grega para erguerem suas moradias.

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FLORENZANO, M. B. B.; Glossário Profa. Maria Beatriz Borba Florenzano
Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Santuário de Zeus Olímpio em Casa Marafioti
No setor leste, próximo aos muros e em posição elevada e dominante, está o santuário de Casa Marafioti situado sobre o altoplano de Contrada Cusemi, que se estende até a planície. A área sagrada é urbana, localiza-se a 100 metros noroeste do teatro e a cerca de 90 metros ao norte da teca do arquivo de Zeus Olímpio, estando todo este complexo de estruturas entre os vales de Milligri (a oeste) e de Saitta (a leste). No século XIX o local do santuário era chamado de Casino Imperatore, passando a ser conhecido depois como santuário de Casa Marafioti. Nesta época a família Marafioti construiu sua casa sobre a área sagrada, principalmente sobre parte das fundações do templo, que é dórico e datado do século VI a.C.
Escavado por P. Orsi em 1910 e em 1911, o santuário era separado da teca por um muro de contenção construído no declive da colina. O muro de Contrada Pirettina era feito de blocos isodômicos de arenito de 2,5 metros de largura, orientado leste-oeste e se ligava a leste provavelmente ao vale Saitta. É possível que esta estrutura murária fosse o períbolo (muro do témeno) do santuário de Casa Marafioti, ou o analemma de sustentação da colina, ou ainda, como pensou P. Orsi, tenha tido a função militar além da de sustentação (Costamagna; Sabbione, 1990: 63-64; Costabile, 1992: 37 e 39).
Até hoje a divindade cultuada no santuário permanece incerta. Os estudiosos de Lócris Epizefiri associam este santuário à teca do arquivo de Zeus Olímpio, que foi descoberta em 1959, portanto quase 50 anos depois das escavações de Orsi. A teca, situada próxima ao santuário (apenas 90 metros a sul dele), era um tipo de fosso de pedra em que foram encontradas 39 tábuas de bronze contendo registros sobre operações financeiras dos magistrados de Locri e empréstimos feitos ao santuário de Zeus Olímpio. Foi descoberta durante trabalhos agrícolas e na ocasião os descobridores, não conseguindo remover a pesada tampa de pedra, danificaram a parte lateral do fosso retirando parte das tábuas de bronze. Somente após alguns dias, Ugo Serafino, especialista da Soprintendenza, conseguiu recuperar duas tábuas escondidas dentro de um estábulo. Estas somaram-se as trinta e sete encontradas pelos especialistas dentro da teca, mas é possível que outros materiais guardados ali tenham sido vendidos e dispersados (Costamagna; Sabbione, 1990: 261).
A teca foi feita em um único bloco de calcário, internamente oco e de forma cilíndrica, que mede 1,57 metros de diâmetro, 1,26 metros de altura e as paredes 31 cm de largura. Este fosso era fechado por uma sólida tampa (espessura de 38 cm) também de calcário de diâmetro de 1,48 metros e continha uma saliência circular de 90 cm de diâmetro, na parte inferior, que se encaixa na cavidade interna da teca de 95 cm de diâmetro. Na parte externa da tampa há quatro pares de anéis grossos de bronze maciço diferentes entre eles pela dimensão e sistema de fixação. Os dois anéis menores (diâmetro de 10 cm) são móveis e inseridos em buraquinhos de bronze fixados profundamente na tampa; os outros dois de maior dimensão (13,8 cm de diâmetro) são inseridos diretamente na pedra, em posição fixa, levemente inclinados, um sobre o outro. A explicação mais convincente sobre esta diferenciação é a de que os anéis maiores fixos oblíquos eram usados para levantar a tampa por meio de cordas unidas a uma ou duas roldanas suspensas ao centro e no alto. Os anéis móveis e menores podiam ser usados para deslocar lateralmente a tampa já erguida.
As 39 tábuas de bronze datam do período democrático de Lócris, portanto ao redor da segunda metade do século IV a.C. e da primeira metade do século III a.C. Os textos, estudados pelo arqueólogo italiano Alfonso De Franciscis, estão escritos em dialeto dórico local que tem influência ateniense. As tábuas constituem uma documentação única em todo o mundo grego e representam uma excepcional fonte de informação sobre a vida e a organização política da cidade no período: a articulação dos cargos públicos, a subdivisão da população, a função econômica do santuário, que concedeu à pólis prestígios em dinheiro, muitos destinados à restauração e ao reforço da cinta murária. Em uma das tábuas são citadas contribuições a um basileus, que segundo alguns estudiosos seria um magistrado da cidade e segundo outros, seria Pirro, o rei do Épiro (Costamagna; Sabbione, 1990: 164 e 261).
O santuário de Casa Marafioti abrigou um templo dórico o qual foi noticiado já nos tempos modernos por alguns viajantes franceses e italianos que passaram pela região da Calábria no século XVIII e XIX. Dois deles, os franceses Jean Claude Richard De Saint Nôn e François Bielinski, respectivamente, em suas obras Voyage Pittoresque ou Description des Royaumes de Naples et de Sicile (1783) e Troisième Centaine que commence avec l´année 1791 (1791) descreveram a área do templo e, principalmente, registraram que ainda naquela época (décadas finais do século XVIII) duas colunas do templo ainda estavam em pé. Um desenho da vista da região do templo feita por Desprez para a obra de De Saint Nôn foi ampliado pelos especialistas e revelou as duas colunas do templo de Casa Marafioti (Costabile, 1992: 54).
O primeiro a escavar o santuário e o templo foi o Duc de Luynes em 1830. No seu relato Ruines de Locres publicado nos Annali del Istituto di Corrispondenza Archeologica, II (1830) diz que a última, das duas colunas restantes, tinha sido demolida dois anos antes por um viticultor para servir como cerca ao seu jardim (Costabile, 1992: 54-55).
A primeira escavação sistemática do templo de Casa Marafioti foi realizada por Paolo Orsi em 1910, que publicou os resultados da pesquisa no artigo Il tempio dorico a Casa Marafioti, In Rapporto preliminare sulla quinta campagna di scavi nelle Calabrie durante l'anno 1910, Notizie Scavi (1911). Neste relatório P. Orsi imprimiu suas impressões sobre a real situação do templo no início do século XX, registrando as condições do edifício após as inúmeras depredações e a abordagem do Duc de Luynes no século XIX.
As escavações de P. Orsi recuperaram uma variedade de elementos arquitetônicos e escultóricos do templo, tais como capitéis e fragmentos de coluna, partes de um pentaglifo do entablamento, partes quase completas da sima do templo com cabeças leoninas, decoração com meandros e vultas, provenientes da cornija, e uma escultura de um cavalo e seu cavaleiro, o conjunto de um dos acrotérios do edifício.
Mesmo diante do estado deplorável das ruínas do templo, os especialistas definiram a data do edifício (540/30 a.C.) e arquitetura. Trata-se de um templo dórico períptero de 20 x 36-40 m com 8 x 17 colunas.

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • LAKY, L. A.; Olímpia e os Olimpieia: a origem e difusão do culto de Zeus Olímpio na Grécia dos séculos VI e V a.C.
  • COSTABILE, F. (ed.); Polis ed Olympieion a Locri Epizefiri.
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
  • SABBIONE, C.; COSTAMAGNA, L.; Una città in Magna Grecia. Locri Epizefiri: Guida Archeologica.
Reconstituições > Reconstituições

Os desenhos realizados pelos viajantes e artistas, que nos séculos XVIII e XIX visitaram os sítios das cidades gregas, registraram o estado das ruínas no período, proporcionando para nós informações sobre estruturas que chegaram para nós totalmente destruídas, na maior parte dos casos.

  • COSTABILE, F. (ed.); Polis ed Olympieion a Locri Epizefiri.
Formas de ocupação da khóra > Estruturas de marcação da extensão do território

Metauros está localizado na nascente do rio Metauros/Petrace; é uma fundação de Régio de sorte a se contrapor a Lócris que havia fundado Medma e Hipónio. Mas, Metauros acaba passando para a órbita de Lócris no século VI a.C. (Gioia Tauro) Medma e Hiponio possuíam estrutura de pólis enquanto Metauros era mais indígena e tinha uma estrutura de posto de comércio (empório). Segundo os especialistas, Metauros permanece na antigüidade como área de disputa entre estas duas pólis.

Formas de ocupação da khóra > Estruturas de marcação da extensão do território

Toda a hinterlândia da Calábria meridional, com costa marítima no Mar Tirreno e no Mar jônio era motivo de disputa entre as duas cidades Régio e Lócris- que fundaram postos militares avançados e outros assentamentos como Metauros, Hiponio e Medma. Toda essa região contava com populações indígenas que, influenciadas pelos gregos, aderiam ou apoiavam uma ou outra pólis.

Formas de ocupação da khóra > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Santuário de Perséfone em Mannella
No setor nordeste – a área mais alta da cidade - estão posicionados dois santuários: um suburbano dedicado à Perséfone e outro urbano dedicado à Atena, ambos construídos ao lado das muralhas. O santuário de Perséfone foi a área sagrada mais antiga e que mais tempo esteve ativa. Pequenos quadrinhos de terracota contendo cenas do mito de Perséfone – os chamados pínakes de Lócris – são datados a partir da metade do século VII a.C. até o V a.C., e indicam a fase inicial de atividade do santuário. Já as cerâmicas italiotas de figuras vermelhas, estatuetas helenísticas, moedas de Pirro e de Alexandre, o Grande, mostram que o culto à deusa ainda era ativo no século IV e III a.C., tendo sido abandonado em época imperial romana (Costamagna; Sabbione, 1990: 283). Numerosos são os pínax (tabletes de terracota) com cenas de culto a Perséfone encontrados/produzidos em Lócris.
A identificação do célebre Persephonéion – recordado por Diodoro (XXVII) como o santuário mais famoso do sul da Itália – com o santuário da colina de Mannella é assegurada, como disse P. Orsi, não somente pelas inscrições de dedicações à deusa, mas pela precisa correspondência entre o relato topográfico da fonte e a conformação particular do sítio: externo ao muro e acessível por ele. O estreito e fechado vale na altura de Mannella e Abbadessa é particularmente sugestivo para um lugar de culto de divindade ínfera e ctônica.
O santuário foi construído no vale da colina de Abbadessa, na encosta sudoeste da colina de Mannella, próximo a uma porta e aos muros. Durante as escavações no local entre 1908 e 1911, P. Orsi encontrou dois murões de contenção situados nos dois lados do curso
d'água, criando uma barreira contra a passagem de água. Orsi viu nesta estrutura não apenas uma obra militar e hidráulica, mas o desejo de monumentalizar o acesso ao santuário, usado por quem vinha da cidade. Os visitantes, então, reconheciam na passagem uma verdadeira porta usada quando a torrente estava seca, e nos grandes muros de contenção o apoio para uma ponte nos momentos de cheia (Costamagna; Sabbione, 1990: 278). Uma outra estrutura, um muro de barreira de 110 metros de comprimento e 2,5 metros de largura, seguia em direção à colina quase em ângulo reto. Este era o témeno do santuário, caracterizado pela ausência de um verdadeiro templo, fato não raro no caso de divindades ctônicas (Costamagna; Sabbione, 1990: 278 e 283). No espaço entre os muros de contenção e o muro de barreira, foram descartados milhares de objetos votivos (dentre eles os pínakes) dedicados à deusa, provavelmente na ocasião da reestruturação geral do santuário. É interessante lembrar que antes de serem descartados, os objetos votivos foram quebrados intencionalmente e ritualmente, porque inutilizáveis permaneceriam para sempre dedicados à divindade.
A única estrutura religiosa identificada foi o pavimento de um pequeno edifício com uma fossa quadrada, feita como uma caixa-forte para guardar os objetos votivos mais valiosos. O edifício em si foi completamente destruído e P. Orsi sugeriu uma edícola (tipo de pequeno templo) decorada com um antêmio e antefixos com cabeça feminina, do qual sobraram apenas os fragmentos. O edifício foi datado do século V a.C., imaginando-se que a construção ocorreu no momento da reestruturação do santuário, quando as oferendas foram ocultadas (Costamagna; Sabbione, 1990: 283; Cerchiai, 2004: 103; Greco, 2008: 150).

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  • GRECO, E.; Magna Grecia: Guide archeologique Laterza
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  • SABBIONE, C.; COSTAMAGNA, L.; Una città in Magna Grecia. Locri Epizefiri: Guida Archeologica.
Formas de ocupação da ásty > Áreas residenciais

Casas em Centocamere
O setor residencial mais conhecido de Lócris é Centocamere, onde se pode ver um grupo de quarteirões com habitações que se abre para uma grande platéia 14 m larga. Esta platéia corre na direção leste/oeste ao longo do porto na área de Parapezza. A norte da grande estrada foram escavados quarteirões estreitos e longos, de dimensões regulares (27 metros de largura), separados por estenopos de 4 a 4,50 metros (apenas dois quarteirões apresentam a frente de 13 metros). A organização urbanística da área não é uniforme (Costamagna; Sabbione, 1990: 114). A sul da platéia, os cinco quarteirões escavados têm forma e dimensões diversas talvez porque foram feitos em uma zona periférica, fruto da adaptação da implantação regular em uma área de risulta. Nos quarteirões vêem-se grupos de habitações simples, que respeitam a mesma planta (um cômodo de entrada e duas salas pequenas ao fundo), com grande quantidade de fornos para a produção de vasos, tijolos, telhas, revestimentos arquitetônicos e terracotas figurativas. Os fornos foram construídos em argila crua e tinham uma câmera circular de combustão de 4 metros de diâmetro, e eram inseridos dentro da estrutura habitativa - o espaço destinado também à oficina propriamente dita, com poços, canaletas e tanques para a produção de argila e dos objetos. O uso da área como uma bairro de artesãos ceramistas abrange o período que vai do século VI ao século III a.C., conforme indicam os achados feitos em argila encontrados no local (Cerchiai, 2004: 96 e 98; Greco, 2008: 154-155).
Até a metade do século III a.C. o bairro era apenas de artesãos, como evidenciaram os numerosos fornos e os objetos produzidos. Na segunda metade do século III a.C. a parte sul do bairro foi alterada. Os fornos foram desmantelados e a área interna das quadras foi dividida em lotes que variavam de 120 a 250 m2. As casas passaram a ser construídas ao redor de um pátio aberto e central. A parte residencial incluía dois armazéns, salas destinadas ao estábulo e, em casas maiores, um local para a acomodação de escravos (Cerchiai, 2004: 98 e 100).

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • NEVETT, L. C.; House and society in the ancient Greek world.
  • GRECO, E.; Magna Grecia: Guide archeologique Laterza
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  • SABBIONE, C.; COSTAMAGNA, L.; Una città in Magna Grecia. Locri Epizefiri: Guida Archeologica.
Formas de ocupação da khóra > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Santuário de Grotta Caruso
Entre o setor nordeste e leste da pólis, em posição suburbana, localiza-se o santuário das Ninfas. Na parte externa da cinta murária, na base de um declive íngreme em Contrada Caruso, abria-se uma gruta natural da qual jorrava uma nascente d'água. O desenvolvimento do culto no local ocorreu a partir do século VI a.C. até o século II a.C. e foi sede do culto às Ninfas, mas também de Pã e de Sileno. Ali, as escavações de P.E. Arias em 1940 revelaram um rico depósito de terracotas votivas datadas, sobretudo, do século IV ao II a.C. Parte destas terracotas são bustos e estatuetas de figuras femininas sentadas, grutas e tabuinhas contendo cenas com Sileno, símbolos do culto de Dioniso e divindades fluviais metade touro, metade homem. A única estrutura construída na área da gruta foi um tipo de reservatório, de época helenística, feito para a fonte de água. O culto às Ninfas em Grotta Caruso é associado a Eutymos, vencedor de Lócris nos jogos olímpicos que foi divinizado (na forma de um deus-rio) ainda em vida por ter derrotado o demônio que aterrorizava a cidade de Temessa (Cerchiai, 2004: 103; Costamagna; Sabbione, 1990: 154-156; Greco, 2008: 149).

  • GRECO, E.; Magna Grecia: Guide archeologique Laterza
  • LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.
  • SABBIONE, C.; COSTAMAGNA, L.; Una città in Magna Grecia. Locri Epizefiri: Guida Archeologica.
Formas de ocupação da khóra > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Santuário de Deméter em Parapezza
No setor sudeste estão localizados os santuários de Deméter e de Zeus Saettante, em Parapezza, e de Afrodite, em Centocamere e em Marasà. O santuário de Deméter situa-se no início da porção leste das muralhas e esteve ativo como local de culto a partir da segunda metade do século VI até o século III a.C. (Cerchiai, 2004: 103) Em época arcaica o santuário cobria uma superfície de 40 x 80 metros, possuía um sacello de 7,65 x 9,20 metros de arquitetura simples sem colunas, feito em tijolos crus e ao longo das paredes havia banquinhos para a exposição das oferendas. Ao interno da estrutura, do lado oposto da entrada, estava posicionado o altar. Este edifício data entre a metade do século VI e V a.C. e foi demolido na primeira metade do século IV a.C. durante os trabalhos de reconstrução dos muros. Mais a norte da área escavada está um outro edifício datado entre o século VI e V a.C. identificado como uma sala para banquete. Na área do santuário vêem-se também os restos de um recinto (7,5 x 15 metros) construído em técnica mista (com pedras irregulares e restos de telhas e tijolos). Trata-se dos restos do santuário de Deméter do século IV e III a.C. No recinto estão também as partes de um pequeno altar construído com telhas e na parte interna com quatro tubos de terracota colocados verticalmente no terreno, típicos de altares de divindades ctônicas, que serviam para a libação. Neste período, o santuário foi novamente organizado após a construção da torre quadrada, que anulou a parte mais antiga da área sagrada (Cerchiai, 2004: 103; Greco, 2008: 143).
A atribuição da área à Deméter foi propiciada pela inscrição Thesmophóros em uma situla (vaso em forma de balde). Thesmophóros era o epíteto de Deméter protetora do casamento e dos ritos de passagem. O culto também foi confirmado pela grande quantidade de material votivo (cerâmica miniaturística, taças e hydriai, estatuetas femininas) e de parafernália do culto encontrada em diversas fossas escavadas na área sagrada externa aos muros (Greco, 2008: 143).

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • GRECO, E.; Magna Grecia: Guide archeologique Laterza
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
  • LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.
Formas de ocupação da ásty > Grade urbana: acrópole, quarteirão, ágora, platéias, estenopes, orientação

Teatro
O maior edifício público destinado a atividades não religiosas que permaneceu é o teatro. Situado em Contrada Pirettina, foi construído a partir da concavidade natural do terreno, nas encostas da região de Contrada Cusemi, abaixo das imediações do santuário da Casa Marafioti. O teatro é datado do século IV a.C. e sofreu muitas alterações em época romana. É constituído de uma orquestra semi-circular e o complexo consta de sete setores divididos por escadas e no sentido horizontal por uma larga faixa (diázoma). Os arqueólogos não excluem o uso do teatro para a reunião das assembléias, sabemos, todavia, que o teatro não era ligado à ágora porque imediatamente numa curta distância dele estão os restos das estruturas de edifícios privados relacionados aos estenopes, extensão daqueles retraçados no bairro de Centocamere, não havendo, portanto, espaço físico suficiente para a instalação da ágora (Cerchiai, 2004: 102; Costamagna; Sabbione, 1990: 62; Greco, 2008: 150-151).

  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • LAKY, L. A.; Olímpia e os Olimpieia: a origem e difusão do culto de Zeus Olímpio na Grécia dos séculos VI e V a.C.
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
  • SABBIONE, C.; COSTAMAGNA, L.; Una città in Magna Grecia. Locri Epizefiri: Guida Archeologica.
Formas de ocupação da khóra > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Santuário de Zeus "Saettante" em Parapezza
Em Parapezza esteve localizado também um santuário dedicado a Zeus nomeado Saettante pelos arqueólogos italianos. A área sagrada suburbana foi identificada em 1961 a partir do achado de nove fossas votivas encontradas no ângulo leste e fora da muralhas, abaixo de um edifício romano ligado à práticas agrícolas. O depósito incluía vasos votivos miniaturísticos de hydriai e de enócoas e numerosas terracotas de Zeus nu, frontalmente representado, no ato de arremessar um raio com o braço direito, vestindo um diadema na cabeça, um manto sobre as costas, segurando uma águia no braço esquerdo e abaixo uma enócoa sobre um altar (Costamagna; Sabbione, 1990: 150). As terracotas de Zeus datam do século IV e III a.C. O tipo de representação de Zeus arremessando o raio com o braço direito e segurando uma águia com braço esquerdo é comum no mundo grego, mas os outros elementos na imagem (diadema, enócoa e altar) são acréscimos locais a este padrão de imagem do deus. Os arqueólogos italianos caracterizaram a área das fossas como um santuário dedicado a Zeus, embora nenhum edifício de culto ou um muro de témeno ou um altar tenha sido encontrados. Ressaltamos que na mesma área do ângulo leste fora das muralhas foram encontradas outras fossas votivas - contendo hydriai, terracotas de figuras femininas do século VI e V a.C. e skyphoi locais do século V a.C. – e que não foram relacionadas às fossas contendo as terracotas de Zeus.

  • SABBIONE, C.; COSTAMAGNA, L.; Una città in Magna Grecia. Locri Epizefiri: Guida Archeologica.
Formas de ocupação da ásty > Áreas sagradas: depósitos, templos, capelas, santuários, altares

Stoá em "U"
A Stoá em "U" costuma ser relacionada ao culto de Afrodite. Os achados de skyphoi com inscrições de dedicações à deusa (datadas ao redor do início do século IV a.C.) mostram claramente uma ligação entre os poços (bóthroi) e o culto. São significativos também a presença de ossos de cães que sabemos serem sacrificados a Afrodite na Trácia e na Ática. Entre as estatuetas votivas se nota a freqüência de estatuetas de simposiastas representados sobre a kliné, indicando a relação do culto com o mundo do simpósio (Costamagna; Sabbione, 1990: 213).
A confirmação da conexão do culto de Afrodite e a posição do edifício dentro da cinta murária induziram Mário Torelli a propor que ali estava localizado o culto de Afrodite relacionado à prostituição sagrada. O ritual - com origem na deusa oriental Ishtar - foi introduzido em algumas cidades gregas como em Corinto, particularmente ligada ao comércio com o Oriente e principalmente com os fenícios. É verossímil que um culto de origem estrangeira estivesse localizado em uma posição marginal, externa a linha dos muros, que separavam os santuários ligados às tradições religiosas de Lócris (Costamagna; Sabbione, 1990: 213-214; Greco, 2008: 152-153; Torelli, 1976: 147-150).
De qualquer maneira, stoai deste tipo eram destinadas a oferecer um abrigo do sol ou das intempéries em lugares públicos muito freqüentados. Dentre os exemplos mais significativos está a antiga stoá do santuário de Hera em Samos (datada em c. 600 a.C.) e as duas stoai que delimitavam a ágora de Mégara Hibleia na Sicília (datadas ao redor da segunda metade do século VII a.C.). Portanto, trata-se de edifícios ligados ao uso imediatamente prático e que se definem como laicos mesmo quando estão inseridos em uma área sagrada (Costamagna; Sabbione, 1990: 211).

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • TORELLI, M.; I culti di Locri
  • HELLMANN, M.; L’ Architecture Grecque. 2. Architecture religieuse et funéraire.
  • GRECO, E.; Magna Grecia: Guide archeologique Laterza
  • SABBIONE, C.; COSTAMAGNA, L.; Una città in Magna Grecia. Locri Epizefiri: Guida Archeologica.
Formas de ocupação da ásty > Muros e posicionamento das portas

Lócris era circundada (no século IV e III a.C.) por um circuito de muros de c. 7,5 km. Os muros eram largos 2,5-2,8 m e feitos de pedra e de tijolo cru. Os arqueólogos conseguiram definir duas fases para a construção das muralhas. A mais antiga data da metade do século VI a.C. e foi contemporânea ao planejamento do esquema urbano, quando os muros cercavam somente a área da cidade baixa. Partes do muro desta época vieram à luz no setor sul próximo a Centocamere e no setor leste na região de Parapezza e Marsala e nestes setores foram reconhecidos os portões. No lado sul do muro, em direção ao mar, existiu uma entrada monumental datada do final do século VI a.C., que consistia em um propileu in antis e uma coluna central, baseadas em um pavimento de blocos sólidos. Na parte leste o acesso era uma simples abertura do portão em ângulo com o muro. Em Centocamere, os muros faziam um ângulo agudo a leste para evitar a Stoá em "U", situada fora da área urbana. O edifício é tão próximo ao muro que o valor defensivo da muralha é duvidoso. Ao menos no lado sul o muro parece ter sido construído para marcar o limite da área urbana e para afirmar a influência política e cultural ao redor da área do porto (Greco, 2008: 141; Cerchiai, 2004: 95).
A segunda fase da construção dos muros ocorreu entre os séculos IV e III a.C., quando a muralha foi reconstruída reutilizando-se a estrutura mais antiga, reforçada com tijolos de barro. Encontramos um exemplo deste tipo de estrutura em Centocamere, onde a parte mais recente construída incorporou a mais antiga. Nesta fase a muralha helenística estendia-se do mar até a parte mais alta da pólis em direção ao interior. E o sistema defensivo no setor colinar possuía muros que seguiam as crestas das colinas, protegendo os vales abaixo, bloqueando e canalizando o fluxo do rio com barreiras impostas. No cume das colinas de Castellace e Mannella, torres grandes e quadradas dominavam a região, proporcionando um controle amplo do território (Cerchiai, 2004: 96).
As portas identificadas até hoje são quatro: a norte na necrópole de Parapezza, na área de Marasà; a sul na Cota San Francesco, em correspondência do Dromo; e outras duas em Centocamere no lado da costa (Greco, 2008: 141).

  • MERTENS, D.; Città e monumenti dei Greci d’Occidente.
  • LABECA,; Foto Acervo Labeca
  • FREDERIKSEN, R.; Greek City Walls of the Archaic Period, 900-480 BC (Oxford Monographs on Classical Archaeology)
  • GRECO, E.; Magna Grecia: Guide archeologique Laterza
  • FLORENZANO, M. B. B.; Relatório científico de viagem ao exterior
  • LONGO, F.; JANNELLI, L.; CERCHIAI, L.; The Greek Cities of Magna Graecia and Sicily.